Empenhado numa estratégia de smart city voltada para as pessoas, o município de Famalicão fez questão de mostrar aos cidadãos o que anda a fazer e planear em matéria de cidades inteligentes. Para isso, organizou um evento totalmente dedicado ao tema, a Semana B-Smart, onde reuniu especialistas nacionais e internacionais, autarcas, técnicos, empresários e outros agentes ligados ao sector e não só.
A iniciativa herdou o nome do projecto B-Smart Famalicão, a plataforma de inteligência urbana lançada pela autarquia, e decorreu entre 21 a 25 de Junho. Durante esses cinco dias, contou com apresentações e debates, exposições, demonstrações e animação, despertando muito interesse a quem passou pela Fundação Cupertino de Miranda e pela Praça D. Maria II, os dois palcos do evento. Também por isso, a câmara municipal mostrou-se satisfeita com os resultados desta primeira edição: “Fazemos um balanço positivo, não só porque reuniu um grupo de oradores que nos conseguiram inspirar para a implementação das smart cities, mas também porque trouxe esta questão para o espaço público, o que é importante para o desenvolvimento da cidade”, explicou Vítor Moreira, director municipal da autarquia.
O responsável lembrou a importância de “trazer o tema para a rua, para as pessoas” e sublinhou a curiosidade que várias soluções despertaram: “foi interessante verificar que houve mais interesse quando criámos uma dinâmica de experimentação, por exemplo quando desafiámos as pessoas a colocar uns óculos 3D ou a ver uma impressora 3D criar objectos que possam ser úteis. Foi aí que as pessoas mais concentraram a sua acção.”
Um fórum de discussão
A primeira parte do evento (dias 21 e 22) esteve centrada no Fórum B-Smart, um espaço de reflexão e debate sobre o tema smart cities que levou dezenas de oradores portugueses e estrangeiros ao auditório da Fundação Cupertino de Miranda. Para Vítor Pereira, coordenador do Fórum, “foi um momento importante, depois da paragem dos eventos que houve nos últimos anos, em que se voltaram a ter conversas profundas sobre o estado de graça das smart cities e sobre as necessidades e urgências para as comunidades”. O director da ZOOM Global Smart Cities Association sublinhou a dimensão descentralizadora do evento, o que “certifica Famalicão como uma cidade em crescendo nesta matéria”, e destacou as apresentações dos oradores estrangeiros, que abordaram o tema numa perspectiva filosófica e disruptiva de pensamento: “Em Famalicão, rebentámos a bolha! Porque fizemos pensamento profundo sobre o que está a acontecer e apontaram-se caminhos alternativos para que, quem tem responsabilidades, possa efectivamente fazer mais e avançar para caminhos, por vezes, opostos aos óbvios que toda a gente está a seguir”.
Entre os convidados internacionais esteve Boyd Cohen, um dos pioneiros das smart cities, hoje empresário ligado à mobilidade (é co-fundador da lomob) e ao conceito de MaaS (Mobility as a Service). O norte-americano focou a sua intervenção nesta área específica, abordando, por exemplo, os processos de gamificação ou blockchain associados, sempre com o intuito de mostrar a mobilidade como forma inteligente de ajudar as cidades. Já Rob Adams, fundador e CEO da agência de inovação neerleandesa Six Fingers, falou de estratégia, inovação e liderança, numa dimensão muito disruptiva, em defesa de um empreendedorismo rumo ao desconhecido e sem medo de errar.
Por sua vez, a norte americana Natalia Olson-Urtecho, antiga conselheira de inovação durante a administração de Barack Obama, abordou sobretudo a promoção do ecossistema para a inovação e as startups, bem com a importância que estas têm para os territórios, nomeadamente ao nível da criação de emprego e de soluções inovadoras. Por fim, Konstantina Siountri, assessora científica do Governo grego para a energia e ambiente, trouxe uma perspectiva de património, associada à sustentabilidade das cidades.
Uma praça de experimentação
A Semana B-Smart continuou depois fora de portas, mais concretamente na Praça D. Maria II, onde esteve instalado o espaço Ágora, com diversas apresentações, conversas e debates, além de várias zonas de exposição que simulavam a rua do futuro numa smart city. Nesta primeira edição, o objectivo da autarquia passou por mostrar, sobretudo, as várias soluções que já foram implementadas no concelho. E exemplos não faltaram, como as passadeiras inteligentes que utilizam uma tecnologia vídeo-analítica que ajuda a detectar peões e a activar um sistema de alerta em caso de necessidade.
A autarquia deu também a conhecer a tecnologia dos sensores conectados, já instalados no centro da cidade, que fornecem dados e informações importantes para a gestão local, nomeadamente ao nível da mobilidade, trânsito ou estacionamento. Entre as novidades, destacou-se o lançamento da ferramenta digital “Gestão de Ocorrências”, que permite sinalizar em tempo real diversas situações que possam exigir a intervenção dos serviços camarários.
Vítor Moreira afirmou que muitas das soluções exibidas estão associadas a parceiros da Smart Alliance, e adiantou que um dos objectivos para o futuro é estender o leque de inovações apresentadas. Sim, porque a realização de uma nova edição é já, para a autarquia, um dado adquirido.
Um observatório de informação
À Smart Cities, o director municipal adiantou que a autarquia deverá lançar até ao final de 2023 o Observatório de Famalicão. Trata-se de uma plataforma analítica de dados, que servirá de complemento à já existente plataforma B-Smart, esta dedicada à captação e gestão de dados: “Nessa altura, depois de juntarmos as duas, teremos completo todo o processo de trabalhar os dados. É claro que este Observatório tem ainda muito caminho pela frente, mas com ele teremos um ecossistema mais ou menos fechado”.
Numa primeira fase, o Observatório irá envolver apenas o município e “poderá lançar alguns dados abertos ainda este ano, fazendo com que as diferentes peças contribuam significativamente para o processo de transparência, já que a smart city é também um espaço de transparência”, concluiu.
Fotografias: © CM Famalicão