A tecnologia, por si só, não é garantia de se conseguir ter uma smart city e, posteriormente, evoluir para uma smart community. Quem o diz é  Oksana Zamora, professora associada no Departamento de Economia Internacional na Sumy State University e que foi uma das oradoras presentes na sessão temática sobre Governance  do primeiro dia da Cimeira Europeia das Regiões para Comunidades Inteligentes. O evento, que acontece a partir de Évora em formato híbrido, junta líderes regionais europeus e especialistas nacionais e internacionais num debate sobre a  a visão para o futuro das comunidades inteligentes na Europa.

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Para a docente, primeiro há que investir na educação, de preferência desde o pré-escolar, porque, mais do que dotar as pessoas com tecnologia, há que explicar-lhes como esta funciona e quais as suas vantagens. E ter a “coragem” de admitir que há pessoas que necessitam de uma presença física para, por exemplo, aprender como abrir um browser. Isto significa, para Oksana Zamora, que ainda há muitos passos a ultrapassar  para se conseguir criar ecossistemas de smart communities. Tal significa financiar não só a inovação, mas também a parte social, defendeu.

Raffaele Buompane, director da Rede Europeia de Centros de Negócios e Inovação (EBN), acrescentou que é necessário tentar diminuir as diferenças, proporcionando um maior equilíbrio e coesão entre os territórios. E deu como exemplo o Norte de Itália onde coexistem cidades muito evoluídas com zonas mais viradas para o negócio agroalimentar e que, por isso, têm, à partida, um menor contacto com a tecnologia. A propósito deste exemplo, Oksana Zamora referiu um curso sobre o qual teve conhecimento, nos Estados Unidos, cujo o objectivo é explicar a qualquer pessoa o funcionamento da tecnologia e de que forma esta pode ser útil no dia-a-dia. A especialista relatou como do contacto entre uma engenheira e os proprietários de fazendas de gado bovino resultou a solução para um problema: os fazendeiros tinham perdas de, pelo menos, mil cabeças de gado, principalmente crias, que se perdiam por altura do nascimento. A associação da experiência dos fazendeiros com os conhecimentos técnicos da engenheira resultou numa coleira que analisa as principais condições de saúde dos animais e consegue antecipar eventuais problemas.

Jan Fransen, especialista em desenvolvimento económico urbano e resiliência no Institute of Housing and Urban Development Studies, acrescentou que, além dos temas mencionados, as smart cities (e, numa fase mais avançada, as smart communities) devem também ser inclusivas. E deu os exemplos do Dubai, Amesterdão e Toronto, três cidades  bem conhecidas pela sua parte “smart” mas revelam comportamentos distintos no que concerne à inclusão – com o Dubai a perder pontos devido à sua posição nas áreas de religião e ideologia, raça e etnicidade, género e sexualidade, rendimento e saúde. Envolver as pessoas traz benefícios, defendeu, não só porque “ninguém fica para trás”, mas também porque a conjunção de diferentes experiências e vivências dá novas perspectivas e potencia soluções inovadoras.

E é aqui que a governação entra, ao estabelecer regras e boas práticas que podem e devem ser seguidas no sentido de obter um melhor e equitativo resultado. Para além disso, acrescentou Raffaele Buompane, é importante ter uma visão holística, conseguindo a colaboração de todas as partes envolvidas, incluindo instituições públicas, sector privado, organizações voluntárias, escolas e cidadãos. Sendo, também importante, distinguir entre uma smart city e uma cidade sustentável, isto porque “smart não é necessáriamente sustentável”. A sustentabilidade só se consegue se se actuar, em simultâneo, na economia, no ambiente e na sociedade, explicou.

Tendo por base o trabalho realizado pela EBN, Raffaele Buompane apontou as sete prioridades para se obter uma governação smart a nível europeu: mobilidade urbana sustentável e ambiente de distritos; ambiente natural e sustentabilidade ecológica; infraestruturas e processos integrados em energia, tecnologias de informação e comunicação e transporte; foco no cidadão; política e regulamentação com planeamento e gestão integrados; partilha de conhecimento e governança de open data; e modelos de negócios, compras e financiamento. Só desta forma será possível criar ecossistemas com todos os cidadãos.

Entre os dias 3 e 9 de Maio, a Cimeira Europeia das Regiões para Comunidades Inteligentes acontece no Convento do Espinheiro em Évora, mas também no formato on-line, sob a Presidência Portuguesa da União Europeia e organizada pelo AURORAL, o projecto europeu coordenado pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo – CCDR-Alentejo. O programa completo e a lista de speakers da Cimeira Europeia das Regiões para Comunidades Inteligentes podem ser consultados aqui. O evento pode ser acompanhado on-line, através do canal de YouTube do AURORAL ou no website do projecto. O registo de participação oficial na cimeira deve ser feito on-line.

 

A revista Smart Cities é media partner oficial da Cimeira Europeia das Regiões para Comunidades Inteligentes.