Como é que o perfil dos utilizadores, o ambiente circundante e o design influenciam a utilização de espaços verdes? Foi isto que um estudo realizado em três jardins públicos e numa praça ajardinada no Porto procurou perceber. As conclusões, divulgadas na semana passada, sugerem que os espaços verdes localizados em zonas carenciadas são menos diversificados e pouco frequentados.

No âmbito de uma tese de doutoramento em ecologia e saúde ambiental, o investigador Diogo Guedes Vidal mapeou, de Agosto a Novembro de 2020, os usos de quatro espaços verdes no Porto – o Jardim da Corujeira, o Jardim de Arca d’Água, o Jardim João Chagas e a Praça Mouzinho de Albuquerque. Considerando os perfis e comportamentos de 979 utilizadores, bem como a sua relação com o contexto social e económico envolvente, o desenho e os elementos humanos e não humanos presentes, o autor notou que a frequência de utilizadores era menor nos espaços de maior privação sócio-económica e ambiental

Além disso, nos espaços verdes cuja envolvente apresentava maior carência sócio-económica, os usos eram “menos diversificados” – um dado explicado pela “ausência de elementos que os estimulem”, refere o autor, que, actualmente, trabalha no Centro de Ecologia Funcional, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra.

Olhar além do verde

Um espaço verde é um local de contacto com a natureza, havendo preferência, segundo o estudo, por zonas mais a Sul, tendencialmente mais quentes, e por zonas junto a árvores. Mas não só. Estes lugares desempenham outras funções sociais e abrangem vários usos, que vão desde a socialização e o convívio, ao relaxamento ou até à acção social. “A praça Mouzinho de Albuquerque e o jardim de Arca d’Água são utilizados para fins de actividades de acção social voltadas para apoio a sem-abrigo, seja na distribuição de alimentos, no caso do primeiro, seja no abrigo nocturno (no coreto), no caso do segundo”, realça o investigador.

É neste contexto que Diogo Guedes Vidal destaca a importância de se estudar a envolvente e os perfis dos utilizadores para perceber se uma intervenção verde é ou não eficaz a responder às necessidades. Nas palavras do responsável, é preciso ir “além do verde” e entender a “ecologia através de um prisma social” para, assim, ajudar a desenvolver um “planeamento urbano mais sustentável, mas sobretudo mais justo e inclusivo e que considere a pluralidade de usos no desenho” desses espaços verdes.

Financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, o estudo incidiu sobre o Jardim da Corujeira, o Jardim de Arca d’Água, o Jardim João Chagas e a Praça Mouzinho de Albuquerque. Foi publicado na revista Urban Forestry & Urban Greening e está disponível on-line aqui.