Barcelona, Milão, Amesterdão, Munique, Estocolmo e Hamburgo são algumas das cidades que decidiram juntar-se à EIT Urban Mobility, uma nova comunidade de inovação na área da mobilidade. A iniciativa foi apresentada hoje em Barcelona, durante o Smart City Expo World Congress (SCEWC), e tem como missão acelerar a transição para uma mobilidade mais sustentável, ao mesmo tempo que ajuda a criar novos espaços urbanos. O SCEWC arrancou hoje na cidade catalã e decorre até ao dia 21 de Novembro.

Para dar a conhecer a nova comunidade, estiveram no palco os presidentes das câmaras municipais de Barcelona e de Milão, Ada Colau e Giuseppe Sala, respectivamente, numa sessão moderada por Maria Tsavachidis, CEO da EIT Urban Mobility. A estes, juntaram-se Luca de Meo, CEO da SEAT, e Francesc Torres, da Universidade da Catalunha, em representação dos restantes sectores que compõem a EIT Urban Mobility.

Para além dos municípios, esta comunidade vai também integrar parceiros industriais dos sectores automóvel e de transportes, seguradoras, retalho e logística, engenharia e consultadoria, desenvolvimento de soluções de software e start-ups, assim como universidades, centros de investigação e instituições de conhecimento.

Ao criar soluções inovadoras para um sistema de mobilidade mais sustentável, espera-se que se consiga libertar áreas nas cidades para novos espaços públicos, como, por exemplo, parques verdes, tornando, assim, as cidades mais amigas das pessoas. Através desta comunidade, cinco cidades serão test beds, nos quais serão ensaiadas soluções em contexto real. “Estamos a juntar cidades e projectos para partilhar conhecimento e boas práticas. As cidades fazem parte do processo de inovação”, afirmou Maria Tsavachidis.

Para Giuseppe Sala, a mudança para um paradigma de maior sustentabilidade na mobilidade significa uma “revolução que só pode partir das cidades” e nem sempre as decisões são fáceis para quem governa. A cidade de Milão tem desenvolvido esforços com uma aposta no transporte público, a promoção da partilha de modos, a substituição da frota de autocarros convencional para uma eléctrica e ainda com a criação de zonas de baixas emissões, que restringem a circulação automóvel – uma medida nem sempre popular.

Um dos destaques desta comunidade é o facto de incluir a indústria automóvel na criação de uma solução que deverá passar pela redução do uso do automóvel particular. “Este é um tempo interessante para nós”, disse Luca de Meo, “precisamos de encontrar um modelo de negócio que não assente na venda de automóveis, mas que pode, por exemplo, passar pelo investimento em plataformas”.

Já sobre o uso da tecnologia na mobilidade, a alcaldessa de Barcelona sublinhou o papel que esta está a ter na partilha de modos mais sustentáveis, mas deixou um alerta sobre as plataformas digitais: “São [ferramentas] muito importantes, mas, se se converterem em plataformas que não pagam impostos e concorrem de forma desleal com outros sectores, como o dos táxis, aí, estão a gerar um problema à cidade (…) A tecnologia tem de ser uma oportunidade para a cidade e não algo que traz mais desigualdade. É por isso que falamos em humanizar a tecnologia, pois esta deve responder aos interesses de todos e não apenas aos de uma parte [interessada]”.

A colaboração e partilha de conhecimento são peças chave desta nova comunidade de inovação e, segundo Colau, representam uma “necessidade e uma oportunidade” para as cidades actualmente. “As cidades partilham desafios globais, como as alterações climáticas, e conseguem colaborar naturalmente entre si, pois a forma de governança com base no Estado [Nação] está ultrapassada”, afirmou a autarca, sublinhando a necessidade de “trabalhar em rede e entre os sectores público e privado, mas sempre com ideias claras”. “Há muitos interesses nas cidades – uns bons, outros maus, outros só diferentes –, mas o dever das instituições públicas é pensar no interesse geral e os nossos objectivos estão muito claros: queremos uma cidade com menos poluição, mas também uma cidade mais segura, mais amigável e onde as pessoas possam partilhar o espaço público”, concluiu.

O lançamento da EIT Urban Mobility aconteceu esta tarde, durante uma das sessões do SCEWC, cujo mote, este ano, é “Cities made of dreams”. O evento, que vai já na sua nona edição, é a principal feira internacional de soluções e projectos no âmbito das cidades inteligentes e conta com um vasto programa de conferências durante estes três dias, com alguns dos mais conceituados especialistas internacionais e mais de mil expositores. A presença portuguesa está assegurada, com várias empresas portuguesas entre a lista de participantes. Nos dias 20 e 21, o evento deverá também receber uma comitiva de representantes municipais, numa visita organizada pela Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP) e a NOVA Cidade.