O ano 2050 pode parecer distante, mas, para cumprirmos a meta de descarbonização da economia prevista para essa data, a década em que nos encontramos é decisiva. Foi com esta urgência que arrancou, ontem, a conferência Eco-Cidades, que, durante dois dias, junta especialistas em urbanismo, arquitectura e engenharia para um debate sobre a sustentabilidade do ambiente urbano na Alfândega do Porto.

Naquele que foi o primeiro dia deste evento, os especialistas foram unânimes em reconhecer a importância do momento actual para o cumprimento da ambição europeia de alcançar a neutralidade carbónica até 2050. A urgência foi, primeiramente, apontada por António Miguel Castro (Gaiurb), Miguel Veríssimo (arquitecto) e Vladimiro Feliz (CEiiA), num debate sobre planeamento urbano, mas acabou por ditar também o curso do painel seguinte, dedicado à mobilidade. “Não podemos perder esta década”, sublinhou a especialista em mobilidade Paula Teles, alertando, em particular, para a necessidade de transformar o espaço público.

Ciente de que “o tempo corre”, Mário Alves, especialista em mobilidade e transportes do Instituto Superior Técnico, destacou a importância da visão política neste processo, mas lembrou que é no “espaço público que se ganham e perdem eleições”, pelo que, para o especialista, saber “contar histórias é também importante” para ajudar a que a mudança aconteça. No que se refere à mobilidade sustentável, e à falta de histórias “bem” contadas, o arquitecto Gil Ribeiro juntou a falta de consenso e de cruzamento sectorial, uma vez que “soluções técnicas, bons técnicos e, até, dinheiro” estão já disponíveis. Responsável pelo desenho de vários sistemas de partilha de bicicletas em realidades tão distintas como a Europa e os Estados Unidos, Gil Ribeiro recordou que, nos projectos de mobilidade, “a fronteira entre criar um elefante branco e uma solução que vai funcionar é muito ténue”, pelo que conhecer os contextos e auscultar as pessoas deverão fazer parte do processo.

O debate, que se esperava ser sobre mobilidade, acabou por debruçar-se também sobre o triângulo “políticos-técnicos-pessoas”. “[Estes] Têm de se sentar à mesma mesa e estar dispostos a ouvir (…), mas há problemas graves no funcionamento da democracia”, apontou Mário Alves. A participação cidadã e a co-criação de soluções são ainda frágeis no contexto nacional, apontaram os especialistas, que mostraram expectativa relativamente à possível criação de assembleias de cidadãos – como foi proposto, por exemplo, por Carlos Moedas para Lisboa.

Já no que se refere aos políticos e ao papel dos técnicos, Paula Teles foi perentória naquilo que está em falta: planeamento. “Primeiro, há que ter um plano/programa (…) [depois] os técnicos têm de ajudar os políticos e os políticos têm de ouvir os técnicos”, disse Paula Teles. Em jeito de provocação à audiência, a também fundadora do Instituto de Cidades e Vilas com Mobilidade lamentou que “muitos técnicos não sintam hoje paixão pela profissão” e lembrou que “o urbanismo não é dissociável da política”.

Além destes temas, o primeiro dia da Eco-Cidades focou ainda a eficiência energética e hídrica dos edifícios, em dois painéis que contaram com a presença dos especialistas Manuela Almeida (Uni. Minho), Vasco Freitas (FEUP), Luís Matias (LNEC), Aline Guerreiro (Portal de Arquitetura Sustentável) e Armando Silva Afonso (ANQIP). Para o dia de hoje, estão previstas sessões sobre eficiência dos materiais, arquitectura bioclimática, conhecimento técnico e produtivo existente no mercado e, por fim, gestão do edifício e da cidade para um desenvolvimento sustentável.

A revista Smart Cities é media partner deste evento.