Salte-se para o ano de 2030 e o que se perspectiva? Um décimo da população mundial (840 milhões de pessoas) a passar fome, enquanto 2,1 mil milhões de toneladas de alimentos são perdidos ou desperdiçados. O cenário é retratado pela Boston Consulting Group (BCG), que publicou recentemente um estudo sobre o desperdício alimentar no mundo. 

Intitulado “Closing the Food Waste Gap”, o estudo da BCG alerta para o facto de se perder, todos os anos, um terço dos alimentos, sendo que “só as frutas e os legumes contabilizam cerca de metade [de perda/desperdício]”. Num cenário hipotético cujo ponto de partida seja 10 milhões de maçãs, o resultado final é 3,4 milhões de maçãs desperdiçadas: na fase de produção ocorre uma perda de 13%, na de armazém de 6%, na de processamento e embalamento de 1%, na de distribuição e retalho de 6% e na de consumo de 8%.

E o problema deverá agravar-se em 2030, diz a BCG. Segundo as estimativas, em 2030, a fome no mundo vai aumentar, passando a acometer 840 milhões de pessoas, e a perda e o desperdício alimentares vai alcançar uma quantidade de 2,1 mil milhões de toneladas. Isto significará ainda que estarão a ser canalizados 1,5 biliões de dólares para alimentos desperdiçados. “Se o desperdício alimentar fosse um país, estaria no topo dos 7 % mais ricos do mundo”, argumenta a entidade, acrescentando que seria também “o terceiro maior emissor de gases de efeitos de estufa”.

Tentar reverter esta situação é possível e “implicará repensar as cadeias de abastecimento, a utilização de energia, a colaboração público-privada, a regulação e a economia comportamental”. E, de acordo com os dados da BCG, é desejável. Feitas as contas, acabar com a perda e com o desperdício de alimentos pode “valer 700 mil milhões de dólares – e os efeitos sobre o bem-estar humano e planetário, mais difíceis de reduzir a dólares, seriam igualmente avultados”. 

 

O que causa a perda alimentar?

Desafios climáticos e práticas agrícolas ineficazes são as duas principais causas de perda alimentar, sendo que a maior parte desta perda ocorre antes e logo após a colheita ou, no caso do peixe, depois da captura. Há ainda outros problemas – enquanto os países com rendimento mais elevados se debatem com a sobreprodução, os de baixo e médio rendimento tendem a fazer uma colheita prematura.

Mas a perda alimentar não acontece só nesta fase mais inicial. Segundo a análise da BCG, as falhas durante o embalamento, nomeadamente devido a incumprimento de normas, também causam perdas desnecessárias. Já na distribuição e no retalho,  os grandes determinantes são “os regulamentos de saúde e estética excessivamente rigorosos (incluindo as datas de validade), a falta de controlo da temperatura em certos locais de venda, bem como a negligência dos retalhistas e restaurantes [através de actividades promocionais inconsequentes, por exemplo]”. No fim da cadeia de valor, “o desperdício é também preocupante, desde a compra excessiva à eliminação pouco criteriosa de restos alimentares”, refere a BCG.