A União Europeia já definiu uma visão comum que tem sido amplamente divulgada. Os meios financeiros também já existem. Agora há que, de forma integrada e inclusiva, avançar para o terreno e para a acção, trabalhando para a eliminação (ou redução) das desigualdades e promovendo a coesão nacional. As sessões High-level do quarto dia da Cimeira Europeia das Regiões para Comunidades Inteligentes abordaram a visão corporativa e de quem está no terreno, salientando, uma vez mais, a importância de parcerias entre todas as entidades. O evento, que acontece a partir de Évora em formato híbrido, junta líderes regionais europeus e especialistas nacionais e internacionais num debate sobre a visão para o futuro das comunidades inteligentes na Europa.
Todos os países europeus têm iniciativas a decorrer, mas, reconhece Martin Brynskov, presidente da OASC – Open & Agile Smart Cities, é muito difícil promovê-las em conjunto, embora seja esta uma das missões core da União Europeia. E é aí que entra o movimento Living in Eu – uma única plataforma digital onde é possível encontrar toda a informação sobre smart cities na Europa, promovendo o encontro de comunidades.
Bem conhecido pelo seu papel na inovação e nas novas tecnologias em Portugal, e agora membro do Parlamento Europeu, Carlos Zorrinho, lembrou que, para que estas iniciativas sejam um sucesso, antes de tudo, é preciso haver vontade política, conhecimento técnico e científico, (muita) imaginação e habilidade para fazer tudo isto acontecer. A par de um conhecimento (próximo) dos territórios e das pessoas que lá vivem e de um real conhecimento das expectativas dos cidadãos e das cidades. Sem esquecer ainda a necessidade também de um conhecimento profundo sobre a sustentabilidade e a necessidade de preservar a diversidade e as condições de vida.
Para isso, Carlos Zorrinho salientou a importância das comunidades e dos seus líderes, nomeadamente as comunidades mais vulneráveis. Num mundo cada vez mais fragmentado, quer a nível político quer social, ser “smart” é usar tecnologia e conhecimento para tornar as comunidades mais resilientes e fortes. Esta é a convicção do deputado europeu, que lembrou que temos de estar atentos às necessidades transmitidas pelos cidadãos europeus. E deu o exemplo do Barómetro Europeu, cujos dados indicam que os cidadãos europeus querem mais emprego, mais segurança, mais inclusão, mais sustentabilidade…e afirmou que devemos começar pelas soluções concretas para possíveis ajustes institucionais. O que irá permitir uma smart e voluntária recolocação de pessoas nos territórios com menor densidade populacional, criando um modelo auto-sustentável no combate à desertificação dos territórios.
A visão europeia foi complementada por alguém que está há 30 anos na Comissão Europeia, Eddy Hartog, Chefe da Unidade de Tecnologias para Smart Communities, que acrescentou que tanto os problemas como as soluções podem ser visualizados e encontrados nas próprias cidades. E salientou a ambição de se atingirem 100 smart cities neutras em carbono em 2030, onde a digitalização tem um papel importante a desempenhar porque, para este especialista, não é possível desenhar as soluções sem dados. Mas, tão ou mais importante, salientou, é preciso uma visão comum, com o empenhamento de todos, porque os governos nacionais, por si só, não o conseguem fazer sozinhos.
Elisa Ferreira, Comissária Europeia para a Coesão e Reformas, por seu lado, apontou os apoios dados pela União Europeia, afirmando que, “no novo quadro financeiro europeu, pelo menos 50% dos financiamentos da Política de Coesão vão ser investidos em inovação, na revolução digital, na transicção para uma economia verde, de baixo carbono”. Meios financeiros que abrem oportunidades, entre elas a inovação e a especialização inteligente. “Inovação e investigação têm de estar no centro do dos novos modelos de desenvolvimento económico”, acrescentou, afirmando que a inovação é essencial para a criação de empregos atractivos, que possam ser adequadamente remunerados e sejam, também, capazes de afrontar os desafios do mundo actual. Acontece que as regiões partem de níveis de desenvolvimento diferentes, pelo que Elisa Ferreira acredita que é preciso criar estratégias de desenvolvimento inteligentes, adaptadas a cada território. O que só terá sucesso se tiver o envolvimento de todos.
“Hoje já não podemos falar de cidades inteligentes, hoje temos de falar de territórios inteligentes”, afirmou Maria do Céu Antunes, ministra da Agricultura, acrescentando que a sua pasta é essencial na transição da digitalização e que “hoje queremos uma agricultura mais verde e resiliente, que possa contribuir para o desenvolvimento das zonas rurais, mas, também possa contribuir para o esforço agroalimentar europeu de forma a garantir a nossa autonomia estratégica”.
A opinião é partilhada pela colega de governo, Ana Abrunhosa, ministra da Coesão Territorial, que afirmou que uma das consequências desta pandemia foi mostrar que ser smart – um rótulo que se aplicava quase exclusivamente às cidades pode ser alargado a todo o território. “A pandemia mostrou-nos a todos que smart podia ser sinónimo de rural”. Mas só isso não chega: a Ministra afirmou que “temos de fazer com que smart se torne sinal de democrático, de universal”, e deu o exemplo da cobertura de banda larga, que tem de chegar a todos e com qualidade, principalmente nos territórios do interior, mais distantes dos centros urbanos, onde a necessidade por serviços de proximidade é maior, assim como a oportunidade de atrair os “novos” nómadas digitais. A par disso, é necessário aumentar as competências digitais das pessoas. Como referiu Ana Abrunhosa, “não interessa se a internet chega a todos se nem todos conseguirem chegar a ela”.
Ainda no tema da inovação, António Ceia da Silva, presidente da CCDRA – Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo, relembrou que a liderança tecnológica da União Europeia tem conduzido a soluções digitais inovadoras, “cujo impacto necessita de ser generalizado e a sua utilização alargada, sobretudo nas regiões mais rurais, por forma a eliminar a exclusão digital e as desigualdades para uma coesão territorial mais forte”.
Quanto ao projecto AURORAL, liderado pela CCDRA e com o apoio do programa Horizonte 2020, Ceia da Silva acredita que, através dele, será possível “contribuir para aumentar o crescimento económico e criar emprego nas áreas rurais, permitir enfrentar desafios sociais, e contribuir para superar o fosso digital que existe entre estes territórios e as zonas urbanas, além de desenvolver o potencial oferecido pelo aumento da conectividade e digitalização nas áreas rurais”. E acrescenta que o projecto irá actuar em cinco áreas: agricultura, energia, mobilidade, saúde e turismo, sendo que irá centrar-se no Alentejo e em mais quatro regiões europeias: Penedès, em Espanha; Piemonte, em Itália; Burgenland, na Áustria; e o círculo ártico, na Finlândia, Suécia e Noruega.
Entre os dias 3 e 9 de Maio, a Cimeira Europeia das Regiões para Comunidades Inteligentes acontece no Convento do Espinheiro em Évora, mas também no formato on-line, sob a Presidência Portuguesa da União Europeia e organizada pelo AURORAL, o projecto europeu coordenado pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo – CCDR-Alentejo. O programa completo e a lista de speakers da Cimeira Europeia das Regiões para Comunidades Inteligentes podem ser consultados aqui. O evento pode ser acompanhado on-line, através do canal de YouTube do AURORAL ou no website do projecto. O registo de participação oficial na cimeira deve ser feito on-line.
A revista Smart Cities é media partner oficial da Cimeira Europeia das Regiões para Comunidades Inteligentes.