O município português de Torres Vedras foi um dos três vencedores da terceira edição do prémio Cidades Educadoras para Boas Práticas de Inclusão e Democratização da Cultura, a par de Medellín, na Colômbia, e Santos, no Brasil. Para a vitória portuguesa contou o projecto “No Coração da Minha Infância”, que, desde 2014, fomenta as relações intergeracionais no concelho com actividades que unem os mais velhos aos mais novos através da memória, da vida e das artes.
A distinção, promovida pela Associação Internacional de Cidades Educadoras, tem como objectivo enfatizar “boas práticas que promovam o acesso à cultura, a contribuição e a participação de todas as pessoas (especialmente dos grupos mais vulneráveis) na vida cultural das cidades como forma de inclusão e promoção do sentimento de pertença e boa convivência”. Para além disso, o prémio pretende evidenciar as “boas práticas que contribuem para promover a diversidade cultural como fonte de inovação e de desenvolvimento pessoal, social e económico (Princípios 2 e 10 da Carta de Cidades Educadoras)”.
Na edição de 2020, o concurso recebeu 58 candidaturas de 13 países, incluindo 19 com as cores nacionais. No leque de finalistas, para além do município do Oeste, houve mais portugueses entre os 50 finalistas. Anadia, Vila Nova de Famalicão e Santarém disputaram também o título final, mas acabou por ser Torres Vedras a levar a melhor, pela “abordagem intergeracional do projecto, promovendo a solidariedade e a convivência entre dois segmentos da população que, infelizmente, vivem cada vez mais separados”.
“No Coração da Minha Infância” é um projecto, iniciado em 2014 pela câmara municipal de Torres Vedras e promovido pela Fábrica das Histórias – Casa Jaime Umbelino em estreita colaboração com o Clube Sénior, que “visa gerar espaços de encontro onde crianças, jovens e idosos das zonas rurais do município iniciam um processo de conhecimento e partilha através de actividades que vinculam a memória, a vida e a arte”. Através do apoio de escritores e escritoras, os idosos “transformam as suas memórias em pequenos romances familiares ou livros de memória”.
Outro aspecto da iniciativa consiste na promoção entre a interacção entre os mais idosos e os mais jovens, nomeadamente no campo artístico. “A partir destes encontros, os jovens criam as suas obras – que depois incluem no seu portefólio – com a ajuda do pessoal docente e a colaboração de artistas convidados.” As crianças não foram esquecidas, participando em workshops de leitura e canto coral, nos quais os idosos recordam e partilham as cantigas e histórias da sua infância. No final, e como forma de dar visibilidade a todo o trabalho artístico, o projecto contempla a apresentação pública dos conteúdos realizados em festivais e exposições.
Por causa da pandemia, o projecto está suspenso, mas a autarquia torriense pretende retomar a acção assim que as condições permitirem. Desde que foi criado, em 2014, já envolveu directamente 472 participantes, incluindo crianças, jovens e idosos, e contou, de forma indirecta, com a participação de mais de mil pessoas. Mais do que “simplesmente” promover a interacção entre gerações, este projecto tem a validade de “contribui para uma maior compreensão da história local e para o reforço do sentimento de pertença dos jovens”, o que lhes permite “aprenderem sobre a vida passada no seu território, estabelecendo uma ligação directa com os seus antepassados e reconhecendo o seu contributo para o bem-estar comum”.
Entre os restantes vencedores, a cidade colombiana distinguiu-se pelo projecto “Red Catul – Aquí vive la cultura” e a brasileira pela iniciativa “Educação antirracista para a inclusão e valorização da diversidade étnica e cultural”.