Sombras que se mexem por vontade própria, numa tentativa de aproximar cidadãos e fazer repensar tecnologia, luz e contemporaneidade. Esta foi a criação urbana que, num misto de arte e jogo lúdico, ganhou o Prémio Playable City no passado dia 9 de Junho.
O projecto chama-se Shadowing e é criado pela dupla de designers Jonathan Chomko e Matthew Rosier. Quanto à experiência que oferece, trata-se de uma tecnologia que permite gravar a sombra de um transeunte à medida que ele passa sob um candeeiro público. Posteriormente, essa sombra será reproduzida para o próximo cidadão, ‘andando’ em paralelo com ele.
No meio das possibilidades tecnológicas, Shadowing acaba por remeter para um universo infantil bem familiar: a sombra de Peter Pan, sempre a fugir ao seu ‘dono’. O resultado permite uma comunhão virtual do espaço público entre co-habitantes desconhecidos, numa mesma cidade. E leva, também, a questionar: será que a tecnologia separa ou une as pessoas?
Segundo Matthew Rosier, “o ponto de partida foi a noção de que o que faz as nossas cidades vibrantes são as pessoas com quem as compartilhamos”. Posto isto, o objectivo de Shadowing é “criar interacções inesperadas entre pessoas que partilham um ambiente urbano ao colocar bolsas de memória através da cidade, lembrando aqueles que já passaram e permitindo aos cidadãos interagir através do tempo”, ressalva Jonathan Chomko.
Para o júri do Prémio, foi exactamente esta capacidade de criar encontros e diálogos ao longo da cidade que fez com que o projecto das sombras se distinguisse. Além da experiência lúdica, a organização ressalvou ainda que Shadowing convida, de forma subtil, à reflexão.
Sombrear Bristol
A iniciativa Playable City está ancorada em Bristol, com organização da Watershed, o centro cultural e de criatividade digital da cidade inglesa. Daí que uma das premissas na escolha do projecto vencedor estivesse relacionada com a implementação prática em Bristol. Depois da atribuição do prémio de 30 mil libras este mês, Shadowing deverá ser instalado nas ruas já em Setembro.
Para a organização, o conceito de “playable city” recoloca as pessoas no centro do espaço urbano, por oposição à visão utilitária da tecnologia. Mesmo a brincar à apanhada com sombras, a criação de Chomko e Rosier levanta questões importantes sobre o registo de dados nas cidades e a privacidade dos cidadãos. Até porque, numa cidade ligada em rede, os dados recolhidos acabam por ser semelhantes a sombras na cloud, vestígios de cada um dos habitantes anónimos que percorrem as ruas urbanas.
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