O município do Barreiro e a NOS demonstraram, na quarta-feira, duas aplicações smart cities de tecnologia 5G: uma, de forma pioneira em Portugal, para a monitorização da mobilidade e outra, ainda em fase de implementação, na área de gestão de biorresíduos. À margem do evento, que decorreu junto ao Parque Empresarial da Quimiparque, o presidente da câmara municipal (CM), Frederico Rosa, afirmou que “é o início de uma nova cidade”, escalando as soluções e recuperando o histórico empreendedor do Barreiro.
Na cidade que já acolheu o maior complexo industrial da Península Ibérica (a Companhia União Fabril, ou apenas CUF), está a surgir um projecto que coloca o 5G ao serviço de uma gestão mais eficiente da cidade e dos serviços prestados aos munícipes. O projecto Barreiro 5G resulta de uma parceria entre o município e a operadora NOS, que fornece a cobertura 5G, e incide sobre duas vertentes, mobilidade e resíduos, ambas assentes na sensorização da cidade – seja das ruas, dos contentores ou dos veículos de recolha de resíduos – e no processamento dos dados em tempo real por uma plataforma NOS instalada no município.
Através de um sensor de imagem com capacidade de vídeo-analítica e conectividade 5G, é possível monitorizar o tráfego, nesta primeira fase, numa das áreas mais movimentadas do Barreiro, a ligação da Avenida Parque da Cidade à Praceta Arsénio Duarte. Trata-se de uma aplicação pioneira do 5G à monitorização da mobilidade urbana, permitindo aceder a dados como o número de viaturas e de peões ou os fluxos, e ainda alertar para situações irregulares (contramão, ultrapassagens em traços contínuos, inversões de sentido de marcha em locais proibidos, travessias fora da passadeira, uso indevido da ciclovia), mantendo o processo de tratamento de dados anónimo. Segundo os responsáveis, a solução poderá ainda ser alargada à detecção de incêndios e cheias, à contabilização de carros estacionados ou de lugares de estacionamento, à detecção de intrusos em zonas restritas, à existência de contentores do lixo abertos ou à acumulação de lixo junto aos contentores.
No caso dos biorresíduos, que serão os resíduos a estrear este projecto aproveitando uma candidatura do município recentemente ganha neste contexto, a solução de sensorização de contentores e camiões de recolha de biorresíduos com recurso a 5G irá permitira optimização da gestão dos sistemas, das rotas e das equipas de recolha. Ao perceber-se o nível de enchimento dos contentores e com a possibilidade de delimitar a região de recolha para se criar ou agendar a rota mais eficiente, a iniciativa tecnológica irá traduzir-se, de acordo com estimativas baseadas em soluções semelhantes noutras localidades, em poupanças de combustível na ordem de 20% e em redução de custos operacionais em cerca de 40%. Os dados processados pela plataforma darão ainda informação sobre indicadores como o número de quilogramas recolhidos por mês, o número de contentores existentes e a sua capacidade, o número de recolhas mensais, os tempos de recolha, os quilómetros percorridos e tanto os quilómetros como o combustível por tonelada.
Sublinhando o “desígnio nacional e até mundial” que a recolha dos biorresíduos representam, o presidente da CM do Barreiro, Frederico Rosa, afirmou, contudo, que o objectivo deste projecto, ainda em fase de implementação, é “escalar a outros resíduos”. “Esta solução de eficiência é escalável a todos os resíduos”, por exemplo à questão dos monos nas cidades com maior densidade urbana, como o Barreiro, acrescentou, em entrevista à Smart Cities. “Temos aqui o primeiro vislumbre daquilo que é a transformação digital, da informatização, mas sobretudo da transformação da vida das pessoas (…), indo ao encontro da cidade que queremos, uma cidade de inovação e de progresso”.
Dois pontos de partida para “o início de uma nova cidade”
Segundo Frederico Rosa, quando se fala em soluções para a transição digital e também para a sustentabilidade das cidades no caminho para as smart cities, é comum surgir o sentimento e a questão de “como é que isto se operacionaliza, no concreto?”. É por isso que, a seu ver, estas duas áreas – mobilidade e segurança rodoviária e resíduos – são dois bons pontos de partida ao permitirem “ver” e “sentir”, no fim de linha, a mudança no serviço e na qualidade de vida. “Queremos que as pessoas sintam a diferença de um serviço melhor prestado, de forma mais eficiente, e que no fim nem se preocupem com ele. É quase como o árbitro de futebol – quando ninguém fala nele, é bom sinal. Essa é a meta.”
Naquilo que chama “organismo vivo” urbano, há muitas ocorrências a todo o momento, mas há também rotinas e padrões e, nesse sentido, a longo prazo, com o grande aporte de dados, os dados transformam-se em ferramentas de planeamento e gestão da cidade. “Permitem a capacidade de reagir em tempo real, mas também a de antecipar, extrapolar para um planeamento de cidade diferente”, por exemplo, criando alarmes para condições de insalubridade no espaço público, mas também se uma passadeira está bem colocada ou se um investimento numa determinada zona fez sentido e está a ter usufruto.
“Esta agilidade é algo que a digitalização e a transição digital nas autarquias nos vão trazer, e é válida para este processo [mobilidade e biorresíduos] e para outros”, realçou, apontando para uma candidatura do Barreiro no âmbito dos Bairros Digitais, onde se prevê a sensorização. Na sua perspectiva, há uma “mais-valia” na aplicação desta tecnologia em termos de eficiência dos serviços e dos recursos públicos – tempo e dinheiro. E menor custo, sublinhou, traduz-se “na libertação de mais verbas para investir no bem-estar das pessoas”.
O autarca do Barreiro referiu ainda que, no dia da cidade, que se assinala a 28 de Junho, será inaugurado o novo espaço para a StartUp Barreiro, que está a funcionar, actualmente, na Baía do Tejo, “já com uma dinâmica engraçada”, estando a preparar-se o segundo bootcamp. “Era um desejo meu muito grande, muito por causa de o Barreiro ter sido uma cidade de um grande empreendedor [Alfredo da Silva, que fundou a CUF]. Fizemo-lo numa antiga fábrica, nesta mediação da fábrica com a cidade, o que também é simbólico. (…) Não queremos voltar a ser a cidade com a indústria que havia antigamente porque a realidade mudou, mas queremos ser uma cidade com aquele lema do “fabricado no Barreiro”. E há uma coisa que o Barreiro nunca deixou de fabricar, que é talento, nas mais diversas áreas e [este talento] vai aqui ter a sua casa, nesta start-up.”