Arquitetos, investigadores e industriais da construção civil reúnem-se na próxima sexta-feira, na Casa da Arquitetura, em Matosinhos, para refletir e partilhar experiências de sustentabilidade no setor. O seminário internacional “Shift – Arquitetura e Sustentabilidade”, dedicado à temática da “Arquitetura Material”, tem curadoria do arquiteto Paulo Moreira.
A consciência da necessidade de boas práticas de sustentabilidade na arquitetura, na construção e na indústria impõe-se pelo impacto do setor no ambiente: representa 40% da energia consumida na União Europeia; 35% das emissões de gases com efeito de estufa; 50% de todo o material extraído; 30% do uso da água e 35% dos resíduos gerados. “São números impressionante que nos deixam, a nós, projetistas, uma vontade de rever como construímos, como projetamos. A arquitetura tem como função pensar soluções, mas não o pode fazer de forma independente”, explica Nuno Sampaio, diretor-executivo da Casa da Arquitetura.
“Este peso tem também a ver com a maneira como fabricamos cada material e o que sabemos da forma como o utilizamos e que material utilizamos”, acrescenta.
“As novas gerações têm-se preocupado muito com a necessidade de se produzir de forma diferente e de se projetar de forma diferente. Eles próprios são motores de inovação”, afirma Nuno Sampaio. “A grande transformação que está a acontecer não pode implicar apenas um segmento desta fileira que é a parte concecional ou projetista”, explica o diretor-executivo da Casa da Arquitetura.
“Temos de passar do paradigma de que cada um é uma ilha, para passarmos a ser um ecossistema empresarial. E, nessa perspetiva, esse interesse e essa recetividade unem não só os arquitetos mas também a indústria, que já está muito interessada, já tem soluções muito interessantes e já pode oferecer meios para os arquitetos inovarem”, argumenta Nuno Sampaio. O diretor-executivo da Casa da Arquitetura elenca um desejo para o seminário, sexta-feira e sábado: “Esperemos que uns suscitem vontades nos outros; uns ofereçam soluções ou questionem para que sejam produzidas essas soluções, tanto na indústria como na conceção.”
Momento de partilha
Paulo Moreira é o arquiteto curador da primeira edição do seminário . “Achei que podíamos tentar reunir um conjunto de especialistas de diferentes áreas, desde a prática profissional, à indústria e à academia”, explica. “No fundo, para trazer perspetivas diversas para este tema… Partilha de experiências, estratégias ou projetos em curso”, concretiza.
O seminário foi arquitetado “em torno de materiais específicos, com escalas de produção diferentes, mas, no fundo, todos considerados boas práticas na aplicação de materiais na arquitetura e na construção”, defende Paulo Moreira. “Quis fazer entender que há desafios muito distintos entre as indústrias, desde pequena escala, num âmbito mais local, a produção em massa, numa escala mais nacional ou global”, partilha o arquiteto.
Consciente de que a investigação académica “nem sempre se cruza com o que é feito num gabinete de arquitetura”, Paulo Moreira pretende ultrapassar a distância entre a prática e a pesquisa. Organizou o seminário com a intenção de criar um momento de interação e de cruzamento entre os diferente saberes, entre “pessoas da prática da arquitetura que estejam a construir obras de qualidade arquitetónica, indústrias que têm preocupações na produção dos seus materiais e investigadores que estejam a trabalhar nestas temáticas”.
A ideia, explica Paulo Moreira, é criar um momento de cruzamento e de partilha entre indústria, prática profissional e investigação: quais são os novos projetos, os métodos.
O “Shift – Arquitetura e Sustentabilidade” procura respostas através de uma forma muito tangível, que são os materiais em si, sintetiza o arquiteto. “Em cada painel, cada membro orador vai dar-nos a perspetiva de um material, seja a argamassa, o betão, a pedra ou o bambu, o cânhamo, a madeira, o mosaico, o metal ou o vidro. E explicar como as técnicas de produção e de aplicação destes materiais vão dar-nos um léxico de soluções que podem inspirar visões sobre o futuro dos materiais de construção”, explica.
“É importante ter esta perspetiva, até para quem não conhece tão bem, o potencial de alguns materiais”, argumenta Paulo Moreira. “A ideia é também ter um caráter de formação, para profissionais, para pessoas da indústria da área. Não só para arquitetos, espero que possamos cativar pessoas das indústrias, estudantes e pessoas da academia para virem assistir às conferências”, acrescenta o arquiteto do seminário.
O “Shift – Arquitetura e Sustentabilidade” conta com uma instalação-vídeo na Casa da Arquitetura, visitas guiadas, oficinas para o público infantil e uma sessão de cinema. A revista Smart Cities é parceira de média do seminário, que tem o apoio do Ministério do Ambiente e da Ação Climática.
A participação no seminário, que a Casa da Arquitetura pretende que “se repita por muitos anos”, é gratuita, sujeita a inscrição prévia e dá direito a um bilhete para visita às exposições patentes, válido para os dias 29 e 30 de setembro.