Implementar mais espaços verdes e azuis em ambiente urbano é, para a Agência Europeia do Ambiente (AEA), uma “parte essencial da solução” para a poluição existente nas cidades, representando benefícios para a saúde, sociedade e ambiente. A recomendação consta de um relatório publicado em Setembro, no qual a entidade europeia sublinha, com base em números da Organização Mundial da Saúde (OMS), que a presença em ambientes com má qualidade do ar é responsável por 13% das mortes na União Europeia (UE).
Numa altura em que começa a ser traçada a relação entre a exposição à poluição do ar e o aumento da mortalidade por Covid-19, a AEA alerta para a necessidade de avançar no combate à poluição nas cidades, assim como na acção climática. Segundo o relatório Ambiente saudável, vida saudável: o modo como o ambiente influencia a saúde e o bem-estar na Europa, publicado pela AEA, a exposição a ambientes com má qualidade do ar é responsável por 13% das mortes na UE – contas já feitas em 2016 pela OMS e que dizem respeito à realidade do continente europeu em 2012.
Em contexto de pandemia e num momento em que “melhorar a saúde e o bem-estar dos cidadãos europeus é mais importante do que nunca”, a AEA sublinha o facto de a situação actual ter permitido entender a “complexa teia de relações existente entre o ambiente, os sistemas sociais e a nossa saúde”. De acordo com o relatório, “parte significativa dos encargos com doenças na Europa continua a ser atribuída à poluição ambiental resultante da actividade humana”.
Assente “amplamente” em números tornados públicos pela OMS, o relatório da agência europeia denuncia a poluição atmosférica como “a principal ameaça ambiental para a saúde na Europa, responsável por mais de 400 mil mortes prematuras” todos os anos na UE. Procurando soluções para os desafios que a poluição do ar coloca, o relatório aponta a “melhor integração das políticas” e a disponibilização, nas cidades, de “mais espaços verdes e azuis” (locais com a presença de vegetação e água) como “partes essenciais da solução”. Segundo o documento da AEA, as soluções verdes oferecem mesmo um “triplo benefício”, com consequências positivas aos níveis da saúde, sociedade e ambiente, já que permitem “arrefecer as cidades durante as ondas de calor”, mas também facilitam o escoamento de águas de inundações, contribuindo para a redução da poluição sonora e para o “fomento da biodiversidade urbana”.
Poluição e Covid-19: como se cruzam?
Um estudo publicado em Julho na revista científica Science of The Total Environment identificou a relação entre a exposição à poluição atmosférica e o novo coronavírus “como um dos factores que mais contribui para a fatalidade por Covid-19”. Da mesma forma, um estudo conduzido por cientistas do departamento de bioestatística da Escola de Saúde Pública TH Chan da Universidade de Harvard, na cidade norte-americana de Boston, concluiu que “um pequeno aumento” na exposição a partículas inaláveis (PM) “leva a um grande aumento da taxa de mortalidade da covid-19”.
As consequências da poluição do ar vão, contudo, além da pandemia, e o relatório da AEA verificou, ainda, a existência de uma variação nos “encargos” de diferentes países do continente europeu com a poluição e as alterações climáticas. Segundo a AEA, existem “diferenças claras entre os países do Leste e do Oeste”, com a Bósnia-Herzegovina a registar 27% de mortes atribuídas às condições ambientais e a Islândia e Noruega a relacionarem apenas 9% das mortes a esta causa.
O novo relatório da AEA conclui que são as comunidades socialmente carenciadas aquelas que estão “frequentemente expostas a níveis de poluição e ruído mais elevados e a temperaturas elevadas”.
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