Com o objectivo de minimizar a crescente desigualdade e de estimular o crescimento inclusivo das cidades, 43 presidentes de câmara de todo o mundo reuniram-se, ontem, em Nova Iorque para o lançamento da campanha Crescimento Inclusivo das Cidades, promovida pela OCDE em parceria com a Ford Foundation. Lisboa, Porto e Sintra são as metrópoles portuguesas que fazem parte da iniciativa, representadas pelos respectivos governantes, Fernando Medina, Rui Moreira e Basílio Horta.
Para fazer frente aos números da desigualdade, a campanha apela a que cidades promovam um crescimento económico mais equilibrado e sustentável, dando cumprimento à Proposta de Nova Iorque para o Crescimento Inclusivo das Cidades, que ficou definida neste encontro de líderes locais e que servirá de roadmap para a construção de cidades mais inclusivas, assim como para alargar o debate neste âmbito e “impulsionar o surgimento de cidades sustentáveis, inclusivas e resilientes”.
A promoção de sistemas de educação que permitam às pessoas de todas as idades e origens melhorar as suas oportunidades de vida, a criação de mercados de trabalho que estimulem o empreendedorismo, o acesso a empregos de qualidade e políticas que favoreçam mulheres, jovens, reformados e estrangeiro, bem como de mercados imobiliários e ambientes urbanos nos quais as habitações são acessíveis e de qualidade, em bairros seguros e saudáveis e onde se evita o estabelecimento de pessoas em áreas segregadas com poucas – ou nenhumas – oportunidades são, por isso, alguns dos pontos centrais da proposta. Adicionalmente, procurar-se-á que as redes de transporte forneçam acesso aos postos de trabalho, serviços e oportunidades de consumo para todos, assim como a serviços públicos acessíveis e de confiança, tais como água, energia, gestão de resíduos e Internet de elevada velocidade.

“A Proposta de Nova Iorque é um apelo às armas e um roadmap para a mudança”, aponta Angel Gurría, secretário-geral da OCDE, acrescentando que “conseguir um crescimento inclusivo nas cidades significa que as pessoas são colocadas em primeiro lugar e são abordados os desafios das comunidades desfavorecidas”. “Precisamos de quebrar a corrente entre a morada de uma pessoa e as perspectivas de vida e isso significa que temos de mudar a forma como construímos e nos movimentamos nas nossas cidades e de habitações mais acessíveis e redes de transporte eficazes e com uma infra-estrutura de qualidade”, rematou.
Recorde-se que, em 2012, por exemplo, 10% daqueles que usufruíam dos salários mais elevados nos países da OCDE auferiram quase dez vezes mais rendimentos do que os 10% que recebem menos. O fosso entre ricos e pobres é ainda mais evidente quando se trata de economias emergentes e em desenvolvimento: no Brasil, a proporção entre os 10% mais ricos e os 10% mais pobres é de aproximadamente 50 para 1 e mais de 100 para 1 na África do Sul, o que demonstra que a “riqueza está consideradamente mais concentrada do que o rendimento”. A investigação da OCDE demonstra que a desigualdade tem uma “forte dimensão espacial”, sendo que em muitos países os desequilíbrios no rendimento cresceram mais rápido em cidades do que em qualquer outro local e a tendência é de que esta realidade se acentue com a dimensão da cidade em questão.
“Enquanto os dados sobre a desigualdade sublinham a tamanho do desafio enfrentado pelos presidentes de câmara, em muitos países os governos locais também têm em mãos decisões de investimento centrais que podem superar estas desigualdades”, revela a OCDE, mostrando-se optimista. “Os governos sub-nacionais – Estados, províncias, municípios e cidades – são responsáveis por cerca de 40% das despesas totais nos países da OCDE, dos quais 60% são direccionados para negócios económicos e educação, que são áreas chave para o crescimento inclusivo”.
“À medida que construímos cidades mais fortes, mais sustentáveis e mais resilientes, temos também de construir cidades mais igualitárias. É nisto que estamos focados através do OneNYC e estamos orgulhosos pela aliança com cidades de todo o mundo na Proposta de Nova Iorque, uma vez que abordamos o desafio da desigualdade aqui e em todo o globo”, concluiu Bill de Blasio, mayor de Nova Iorque.