Com a crescente digitalização, indissociável ao desenvolvimento de smart cities, os data centers, ou centros de dados, surgem como um possível caminho para a questão de agregar dados. No entanto, é essencial que estes atentem também à outra face da dupla transição defendida pela União Europeia – à componente ecológica – e, por isso, o Greenergy data center sediado na região de Harju, no norte da Estónia, considerado o “mais eficiente da zona dos países bálticos”, planeia já a neutralidade climática, com recurso a tecnologia de gestão integrada inteligente da Siemens, para se preparar para o futuro.

“Actualmente, os centros de dados são responsáveis por 2% das emissões globais de dióxido de carbono”, sublinhou Jaano Juhmen, Business Developer da Siemens Smart Infrastructure, durante uma apresentação* a jornalistas do centro de dados estoniano, a poucos quilómetros da capital. Lembrando que o cenário é similar ao da aviação, um sector altamente regulado no sentido de limitar o impacto ambiental, Jaano Juhmen realçou, no entanto, que a previsão é de que a fatia de emissões que cabe aos centros de dados venha a subir até alcançar “entre 3 a 15%”.

Com consciência disto, a própria indústria dos centros de dados materializou o seu compromisso com o Pacto Ecológico Europeu num Pacto para a Neutralidade Climática dos Data Centers. Nele, operadores de centros de dados comprometem-se a reduzir emissões de gases com efeito de estufa com o objectivo de alcançar, até 2030, a neutralidade climática, apostando nas energias renováveis, na eficiência energética, na optimização do consumo de água, nos serviços de reutilização e reparação e na reciclagem de calor (recuperação e reutilização).

Muitos destes ingredientes integram já a receita para a sustentabilidade do centro de dados estoniano, que, com 14 500 metros quadrados, recorre a energias renováveis e aposta na eficiência energética, na optimização da utilização de água, na recuperação de calor e nas próprias características do terreno ventoso para arrefecimento, por exemplo. Mas não só.

Fundado há sete anos por Kert Evert, o Greenergy data center a poucos quilómetros de Talín foi, desde logo, um empreendimento que queria dar resposta não só a uma lacuna na oferta deste tipo de serviços como ao desafio da sustentabilidade. “[Estava a] pensar já um pouco no futuro. (…) Não era só pensar em como desenvolver, mas em como operar a infraestrutura”, sublinhou o fundador, na mesma apresentação, explicando que foi a partir dessa lógica que surgiu a associação à Siemens, enquanto parceira tecnológica.

Na visão de Kert Evert, a tecnologia da Siemens Smart Infrastructure, marcada pela digitalização, pela automatização, pelas redes energéticas, entre outras características, iria ser uma oportunidade de aportar “flexibilidade” ao sistema e de permitir “construir soluções em cima de soluções”.

Gestão integrada e inteligente

“Os data centers têm de estar a trabalhar a toda a hora, numa sociedade digitalizada.” As palavras de Jaano Juhmen reflectem um desafio para os centros de dados, que alojam vários computadores que armazenam dados dos sistemas de informação de diversas entidades – no caso deste centro, desde a câmara municipal, até bancos e empresas. 

Para assegurar o funcionamento contínuo, bem como a segurança e a gestão eficiente dos recursos, este data center no norte da Estónia recorre a tecnologias inteligentes de gestão de edifícios (building management software) e de gestão da energia (power management software) e ainda à solução de optimização de arrefecimento (White Space Cooling Optimization, WSCO) que utiliza inteligência artificial para gerir a aplicação de arrefecimento onde e quando necessário nos compartimentos dos servidores – só o WSCO permite reduzir o consumo de energia em arrefecimento em 30%.

Segundo a Siemens, estas medidas permitem “diminuir o uso de energia, assegurar a protecção térmica e a gestão fidedigna da operação desta infraestrutura crítica”, criando, assim, o “maior centro de dados, e o mais eficiente do ponto de vista energético, na região báltica”. 

As aplicações do portfólio da tecnológica alemã estão ainda integradas numa plataforma de gestão, a Desigo CC, para facilitar o controlo operacional. “Conecta e controla sistemas do edifício críticos e não-críticos” e, ao fazê-lo, “fornece aos operadores do data center um single pane of glass [um único dashboard] onde é possível visualizar, monitorizar, controlar e optimizar sistemas críticos de gestão da estrutura, o desempenho energético e o WSCO”, de acordo com informação da Siemens. 

Este sistema inclui ainda, para limitar o desperdício de energia, a possibilidade de, através das tecnologias de automação de gestão do centro, distribuir calor em excesso para uma empresa de district heating, se necessário. Abrange também a utilização de um modelo de machine learning avançado para, a partir da análise do efeito do arrefecimento em áreas específicas, elaborar um mapa de influência e optimizar a distribuição de arrefecimento ao nível dos compartimentos dos servidores. “Esta solução responde automaticamente a eventos como flutuações de temperatura, minimizando o risco de falhas ou danos, mitigando o problema de sobreconsumo e garantindo a disponibilidade do equipamento sem interrupção”, explica a Siemens.

“Ser resiliente é estar preparado para o futuro”, salientou Kert Evert. Nesta visão de projecção, o fundador deste Greenergy data center avançou que estão também a considerar implementar instalações solares e microgrids neste centro e que têm planos para, depois de “aprenderem com este [primeiro exemplo]”, abrirem um novo data center noutro país báltico.

*A jornalista viajou a convite da Siemens Portugal

Fotografias: © Siemens