O programa Cities Changing Diabetes Lisboa (CCD Lisboa), de prevenção da diabetes e obesidade na cidade, lançou, ontem, o Foodscapes Toolkit. Trata-se de uma ferramenta, já aplicada num projecto-piloto no bairro da Ajuda, que pretende avaliar o impacto do ambiente urbano na saúde da população e contribuir para a definição de medidas preventivas.

No âmbito do Dia Mundial da Diabetes, assinalado no dia 14 de Novembro, o CCD Lisboa partilhou uma “metodologia de informação que ajuda os municípios a trazer um maior foco, nas suas comunidades, para a importância dos ambientes alimentares, da actividade física e dos estilos de vida saudáveis”, refere o programa, em comunicado.

Segundo o CCD Lisboa, o Foodscapes Toolkit já foi testado num projecto-piloto participativo no bairro 2 de Maio na Ajuda, na capital lisboeta, que contou com o apoio da Gehl e da LOCALS APPROACH. Durante um ano, foram analisados os comportamentos alimentares dos residentes, as opções alimentares existentes e a qualidade dos espaços públicos na freguesia da Ajuda, com o objectivo de perceber o impacto do ambiente urbano na saúde desta população.

Conhecer a realidade para gerar recomendações

Oferta [e visibilidade] reduzida de alimentos e de opções de alimentação saudável (como frutas e verduras frescas) nos locais de compra e aquisição de comida, o facto de a localização destes locais estar afastada das zonas de residência e estudo são alguns dos desafios identificados no projecto-piloto. A topografia mais inclinada, as condições microclimáticas adversas e “uma disposição pouco cómoda e segura do espaço público [apenas 20% está alocado aos peões]” são outras dificuldades diagnosticadas.

A par destes elementos, o tempo, o dinheiro e a literacia alimentar são variáveis que influenciam os comportamentos da população e das organizações locais em relação à alimentação. A inflação que se vive actualmente é um dos dados que o CCD Lisboa destaca, referindo na sua análise que “o preço dos alimentos não processados aumentou 15% em comparação com o mesmo período do ano passado”.

De acordo com o CCD Lisboa, a análise realizada permitiu “gerar um conjunto de recomendações e iniciativas que objectivam a criação de condições mais propícias a uma melhor saúde e um maior bem-estar físico e social da população, sobretudo junto daqueles que têm menos oportunidades de fazer escolhas saudáveis”.

Reconhecendo a influência dos ambientes na saúde das pessoas e a previsão de uma incidência crescente de desafios de saúde pública, como a diabetes e a obesidade, Sofia Athayde, vereadora da câmara municipal de Lisboa, sublinha que “serão certamente ferramentas como o Foodscape Toolkit que irão permitir definir medidas efectivas de promoção de uma melhor saúde”. 

Lisboa reforça combate à diabetes

Além do lançamento do toolkit, Lisboa reforçou, ontem, o compromisso neste desígnio através da assinatura da Urban Diabetes Declaration. Este documento contempla cinco eixos de actuação, apostando na integração do factor saúde nas políticas públicas, nas acções promotoras da saúde, na intervenção sociocultural garantindo a equidade, no envolvimento das comunidades e na coesão entre sectores para o desenvolvimento de soluções.

Constituído em 2014, o Cities Changing Diabetes inclui já mais de 40 cidades e 150 organizações parceiras. Lisboa aderiu à iniciativa em 2019, contando com vários parceiros unidos na resposta ao desafio da diabetes e da obesidade – que afecta, actualmente, cerca de 537 milhões de pessoas a nível global.