Numa acção de “apoio” à implementação de “ciclovias pop-up” em Lisboa, um grupo de utilizadores de bicicleta organizou-se on-line e pintou, durante a madrugada, uma via ciclável partilhada na Avenida de Roma. A acção surge no Dia Mundial da Bicicleta, que se assinala hoje, e no mesmo dia em que a câmara municipal de Lisboa (CML) se prepara para anunciar medidas de transformação do espaço público com vista a “acelerar as políticas de mobilidade” na capital. A apresentação tem lugar ao início da tarde e pode ser vista on-line.
“É um sinal de encorajamento à câmara municipal de Lisboa” – é assim que o grupo responsável pela acção desta madrugada justifica a intervenção. Esta foi uma acção “levada a cabo por um grupo de utilizadores de bicicleta anónimos, sem qualquer associação entre si”. O objectivo foi o de ligar duas ciclovias actualmente sem ligação entre si, “desconexas”. Organizaram-se on-line e foi por volta das duas horas da madrugada de hoje que deram início à pintura de marcações de uma via ciclável partilhada na Avenida de Roma, entre a Praça de Londres, que conta com uma recém-inaugurada ciclovia, e a estação de comboios do Areeiro, local onde passa uma ciclovia com destino a Entrecampos, construída há “mais de dez anos”.
A intervenção cidadã, realizada no Dia Mundial da Bicicleta, tem por objectivo “mostrar total apoio às ciclovias pop-up” que a autarquia lisboeta tem vindo a implementar nas últimas semanas, casos da Avenida de Berlim, junto ao Parque das Nações, e das ruas Castilho e Marquês de Fronteira, junto ao Parque Eduardo VII. Pintada durante a noite, este troço da Avenida de Roma mostra agora marcações horizontais de velocípedes e anuncia um limite de velocidade de 30 quilómetros por hora, procurando promover a convivência entre veículos automóveis e bicicletas.
Com esta acção, o grupo pretende alertar a autarquia de Lisboa para a “necessidade” e a “urgência” de implementação dos planos de expansão da rede ciclável da cidade. Há “muito que está por fazer”, dizem. A ambição é “acelerar” a implementação das ciclovias planeadas, “para que todas as zonas de Lisboa sejam servidas” pela rede ciclável. Para o grupo, esta “urgência” é agravada pelo actual estado de pandemia. “A mobilidade dos cidadãos não pode voltar aos moldes pré-Covid-19”, afirma no manifesto publicado on-line. Um estudo, publicado na revista científica Science of The Total Environment, identificou a relação entre a exposição à poluição atmosférica e o novo coronavírus “como um dos factores que mais contribui para a fatalidade por covid-19”.
O grupo considera que “é hora de agir” e quer mostrar apoio à CML numa estratégia de mobilidade que vise “reduzir drasticamente os veículos com motor a combustão do centro da cidade, para diminuir a poluição atmosférica”, lembrando que a cidade é actualmente Capital Verde Europeia e que, no próximo ano, recebe a Velo-City, uma das maiores conferências de mobilidade ciclável do mundo. E quer mais segurança para quem opta pela bicicleta como meio de transporte: “queremos deslocar-nos de forma mais segura e queremos que sejam facultadas as condições para que ainda mais gente opte pela mobilidade suave, activa e limpa na nossa cidade”. “Lisboa tem a responsabilidade e a oportunidade de ser o farol para o futuro da mobilidade, não só do país, mas da Europa”, dizem.
A reacção da CML deverá surgir esta tarde, estando marcada a apresentação de um conjunto de medidas de transformação do espaço público em Lisboa, com vista à promoção da mobilidade activa, na qual vai estar o presidente da CML, Fernando Medina. “Preparando a cidade para um período em que os transportes públicos continuam com a capacidade máxima reduzida”, a autarquia quer “acelerar as políticas de mobilidade seguidas pelo município, como o aumento do espaço pedonal e da rede ciclável”, lê-se em comunicado.