O sistema de bicicletas públicas partilhadas de Lisboa está quase a chegar, com o primeiro teste marcado para Março e, para o utilizador, a experiência não vai estar só nos pedais. Antes de se começar a pedalar, a acção vai centrar-se na aplicação móvel desenvolvida para o sistema, que vai permitir, entre outras coisas, saber onde está a bicicleta mais próxima e recolher dados para optimizar a utilização deste modo de deslocação. Mas não só, quem usar os transportes públicos vai ter benefícios.
Na sessão de apresentação do sistema de bicicletas partilhadas, realizada ontem no Centro de Informação Urbana de Lisboa e promovida pela agência municipal de energia Lisboa E-Nova, foram várias as novidades apresentadas. Perante um auditório lotado, João Dias, administrador da EMEL, deu a conhecer o aspecto final das bicicletas e das estações. As 1410 bicicletas, distribuídas por 140 estações, estarão acessíveis através de uma aplicação móvel para smartphone, que permitirá a adesão instantânea ao serviço e possibilitará, ao utilizador, o acesso a informação em tempo real sobre o número e o tipo de bicicletas disponíveis em cada estação – já que o sistema combina bicicletas eléctricas (940) e convencionais (470). A tecnologia, será, aliás, uma aliada imprescindível para a gestão de todo o sistema. As bicicletas serão dotadas de GPS integrado, o que vai permitir “saber para onde as pessoas estão a deslocar-se, se estão a usar as ciclovias”, dando a conhecer “pontos de partida, de chegada, horários, rotas”, o que pode revelar-se importante na definição da rede ciclável da cidade. Para além disto, todas as estações de tomada e largada de velocípedes vão servir como pontos de Wi-Fi.

“Temos datas para acontecer e é uma certeza”, a garantia foi dada por João Dias. A visão é clara: “fazer ciclovias é muito mais barato que fazer estradas” e “o bike-sharing é mais uma peça no leque de opções de transportes de uma cidade”. Retirar carros da cidade e aumentar a repartição do modo ciclável é o objectivo.
O tarifário “será extremamente acessível e discrimina positivamente quem já tem um título de transporte público”. A garantia foi dada pelo administrador da Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa, que espera apenas pela aprovação das tarifas em Assembleia Municipal para revelar os valores em causa. Recorde-se que o plano de negócios, elaborado pela EMEL e dado a conhecer em Fevereiro do ano passado, estimava um custo de 36 euros para o passe anual e de 10 euros para o bilhete diário. Haverá, ainda, e por razões de cobertura do seguro de responsabilidade civil, “uma idade mínima para poder usar o sistema”, que deverá ser de 16 ou 18 anos.
O concurso foi adjudicado à empresa portuguesa Órbita por 23 099 782 euros, 20% abaixo do valor base definido (28 904 000 euros). A empresa de Águeda fica, assim, responsável, por um período de oito anos, pelo fornecimento, instalação e manutenção das estações e bicicletas, bem como pela operação e manutenção do sistema, que inclui o reposicionamento das bicicletas pelas estações, conforme a oferta e a procura registadas, que vai acontecer a “todas as horas, todo o dia” e a manutenção preventiva e correctiva.
A fase de teste do sistema terá a duração de um mês, vai servir para afinar o serviço e vai contar com um máximo de 100 bicicletas, distribuídas por 10 estações. Quem quiser ser beta-tester deverá inscrever-se, para esse efeito, num website que será criado pela EMEL nos próximos dias. O objectivo passa por “ver se aquilo que está a ser pensado corresponde às necessidades dos utilizadores”, dando oportunidade aos utilizadores de serem, eles próprios, “co-criadores”, através da implementação de algumas das suas recomendações finais. A primeira fase do sistema deverá estar totalmente operacional, segundo João Dias, “mais próximo do Verão”, com 92 estações na zona do planalto central, 27 na baixa e frente ribeirinha, 15 no Parque das Nações e 6 no Eixo Central. Há “uma margem para expansão ou correcção da rede”, de acordo com as necessidades sentidas, e há uma vontade, manifestada por representantes de freguesias presentes na apresentação e pelo próprio administrador da EMEL, de “expandir a outras freguesias” não cobertas e de “pensar [o sistema] numa lógica metropolitana”. “Queremos que esta primeira fase corra bem e que possamos avançar para uma segunda fase”, contou João Dias.
João Dias não esconde o facto de sistemas de bike sharing, tal como a maioria dos sistemas de transportes públicos, serem deficitários, encarando isso com normalidade e revela que é “quem anda de carro [quem] paga quem anda de transportes públicos e bicicleta partilhada”, através das receitas de estacionamento. Ainda assim, e para atenuar este défice, será leiloado o espaço publicitário presente nas bicicletas e nas estações. As receitas provenientes da publicidade irão parar a um fundo que terá como objectivo financiar melhorias nos sistemas de transportes públicos de Lisboa.