Baterias de automóveis que integram sistemas domésticos de produção de energia e o anúncio da instalação de 100 carregadores rápidos para automóveis eléctricos nas estradas portuguesas. No passado dia 6 de Fevereiro, o Teatro Camões, em Lisboa, recebeu decisores políticos, representantes da indústria automóvel, do sector energético e tecnológico e de uma associação de defesa do ambiente, na 3ª edição do Fórum Nissan da Mobilidade Inteligente, num evento em que se falou de mobilidade eléctrica e da sua relação com a auto-produção de energia.

O 3º Fórum Nissan da Mobilidade Inteligente serviu de palco para anunciar que o Teatro Camões, o recinto que acolheu o evento, vai contar com uma solução “de circularidade energética”. Assim, o equipamento cultural lisboeta vai receber o Ecossistema Eléctrico da Nissan, uma solução aplicada no estádio de futebol Johan Cruyff Arena, em Amesterdão. A energia do teatro vai passar a ser gerada por painéis solares e armazenada em baterias usadas de veículos eléctricos.

Na primeira sessão da manhã do Fórum de Mobilidade Inteligente, em que participaram Vera Pinto Pereira, CEO da EDP Comercial, Francisco Carranza, Managing Director dos serviços de energia da Nissan para a Europa, e Sofia Tenreiro, directora-geral da Cisco, a ligação entre mobilidade automóvel eléctrica e geração doméstica de electricidade pareceu assumir o protagonismo. Para a directora da EDP Comercial, a “descentralização da armazenação” vai ser uma realidade que vai deixar clara a importância das “utilities” – os serviços como a electricidade – no acompanhamento da “mudança do paradigma da mobilidade”. Ainda durante esta sessão, Sofia Tenreiro apontou os dois temas que são, para a tecnológica Cisco, essenciais na questão da mobilidade: tecnologia e segurança. Tocando em temas actuais, como a questão dos veículos autónomos e a conectividade, a executiva deixou claro que a sua empresa está a “aproveitar as oportunidades de ligação [dos veículos] com as infra-estruturas”, como estradas, bombas de gasolina e, sobretudo, a comunicação entre veículos, que pode revelar-se fundamental para a segurança na circulação automóvel.

Mobilidade inteligente com enfoque na energia

O futuro da mobilidade é eléctrico. Não é novidade, e já há muito que esta ideia tem vindo a solidificar-se. Fale-se de trotinetas, bicicletas, automóveis, ou, até mesmo, em autocarros, a electricidade parece ser transversal aos modos de deslocação do futuro. Mas a mobilidade eléctrica pode também ser usada como alavanca para uma mudança na forma como as famílias gerem a energia. A ligação entre veículos e infra-estruturas e a criação, a partir das baterias de automóveis, de um ecossistema de produção e gestão de energia pode vir a transformar os consumidores em produtores de energia, para consumo próprio e para alimentar a rede. Estas foram algumas das conclusões da 3ª edição do Fórum Nissan da Mobilidade Inteligente.

Num evento patrocinado pela fabricante de automóveis japonesa Nissan, e que contou com a participação, na sessão de abertura, do secretário de Estado Adjunto e da Mobilidade, José Gomes Mendes, discutiu-se o futuro da mobilidade eléctrica, com foco especial para o sector automóvel. Isto porque, apesar de existir “uma procura crescente dos consumidores pela mobilidade partilhada” e pelos serviços de mobilidade, sejam carros, sejam bicicletas ou trotinetas partilhadas, a propriedade do carro deve “continuar lá durante muitos anos”. Ainda que a decisão política esteja cada vez mais orientada para o investimento da rede de transportes públicos e na promoção dos modos suaves, “a realidade não será a preto a branco” e vão existir “sempre situações em que precisas do teu próprio carro”. Quem o diz é Francisco Carranza (na imagem abaixo), Managing Director dos serviços de energia da Nissan para a Europa, com quem a Smart Cities falou durante o fórum dedicado à mobilidade inteligente.

 

 

Presente em duas das três sessões que marcaram o dia, Francisco Carranza apresentou uma visão desta marca de automóveis para uma área “em que nunca” antes havia apostado: um sistema integrado de gestão energética destinado ao consumo doméstico. É um “pacote total”, já que conta com a instalação de painéis fotovoltaicos para produção doméstica de energia, um sistema de armazenamento que recorre a baterias usadas anteriormente em veículos automóveis da marca japonesa com uma vida útil prometida de 20 anos, um sistema de gestão da energia gerada e ainda um carregador de veículos eléctricos.

“A tendência é os consumidores começarem a ter um papel mais activo no que está a acontecer nas suas vidas” e isso também inclui produzir “uma porção” da electricidade que é usada nas suas habitações. Não é para todos, admite, já que “se viveres num grande bloco de apartamentos, não será fácil”. Esta será uma opção mais viável para aqueles que tenham a possibilidade de ter painéis solares nas suas casas, considera Francisco Carranza.

E qual é a relação entre mobilidade eléctrica e produção e gestão doméstica de energia?  “A mobilidade eléctrica e a geração e armazenamento de energia partilhada têm de andar de mãos dadas”, conta o director da Nissan, que defende que não devem ser lançados “veículos eléctricos no mercado sem uma solução” que teste a sua integração na rede. Para a marca, a tecnologia vehicle to grid, que permite alimentar a rede eléctrica a partir da energia disponível nos veículos, apresenta ainda vários desafios. Um destes é a “estrutura regulatória” dos países, que deve “prever a geração de energia a partir de habitações e de edifícios”, o que ainda não acontece “em vários países”. O sistema energético “tem de alterar-se”, passando “de um sistema totalmente centralizado para um sistema descentralizado e conectado”. Portugal tem já em vigor um enquadramento legal para o autoconsumo de energia de origem solar fotovoltaica, mas que apresenta ainda algumas limitações, não existindo qualquer obrigatoriedade para a instalação de painéis.

Esta é, para a marca, “uma grande oportunidade”. Francisco Carranza explica porquê: “Vemos que muitas das soluções que criámos para a mobilidade eléctrica são também úteis para casa”. A utilização de baterias usadas por automóveis eléctricos em sistemas domésticos de geração e armazenamento de electricidade é “um passo em frente” e encontram a sua principal utilidade no facto de as energias renováveis oriundas de fontes como o sol ou o vento serem “instáveis” e de ser “difícil prever o seu comportamento”. Assim, a necessidade de armazenamento torna-se um imperativo que encontra nas baterias usadas em veículos eléctricos o maior aliado. Na sua função doméstica de armazenamento de energia, Francisco Carranza garante que as baterias duram 20 anos. “Isto não é uma teoria, é a realidade”, garante. O sistema desenvolvido pela marca japonesa só está, para já, no mercado britânico, mas deverá chegar a Portugal e aos restantes países da Europa “assim que possível”.

O evento contou ainda com a participação de Francisco Ferreira, da associação de defesa do ambiente Zero, e de Rui Rei, presidente do conselho de administração da empresa municipal Cascais Próxima. O dia foi, depois, encerrado pelo secretário de Estado das Infra-estruturas, Guilherme d’Oliveira Martins, e Antonio Melica, director-geral da Nissan Portugal.