De uma forma sintetizada, a Mobilidade Sustentável é a capacidade das pessoas se moverem de um ponto para o outro da forma mais equilibrada possível, tendo em conta, para esse equilíbrio, a economia, o social e o ambiente. Mas, na maioria das cidades, não existe esse equilíbrio, e a sociedade sai prejudicada. E a balança da mobilidade desequilibra completamente porque há carros a mais nas cidades. É, por isso, fundamental a promoção de um maior equilíbrio na mobilidade.
Muitos dos problemas da mobilidade nas cidades não se resolvem com a construção de mais parques de estacionamento, a criação de mais lugares de estacionamento, o alargamento das ruas para introduzir um maior número de vias de trânsito, o desnivelamento de cruzamentos em meio urbano – todas estas soluções demasiado complexas e com custos grandes. A maior parte dos problemas resolve-se com o simples equilíbrio desta balança hoje desequilibrada.
“São estas mudanças ambiciosas, estruturais, sustentáveis que as pessoas querem, que os jovens anseiam. São estas mudanças que quem viaja ou quem se viu forçado a emigrar deseja ver implementadas nas cidades portuguesas”.
Se existirem percursos pedonais e percursos cicláveis bem desenhados, que respeitem os critérios funcionais necessários para que sejam vistos como alternativa e se associem ainda bons transportes públicos (com prioridade nos cruzamentos, canais próprios e linhas regrantes de alta capacidade a funcionar 24/7 como seja o BRT ou o LRT), alimentados por interfaces de transporte, certamente que a maior parte da população iria repensar a sua forma de deslocação. Claro que, a tudo isto, tem de acrescer uma maior promoção destes modos de transporte em detrimento do automóvel, e isso traduz-se em coragem política para restringir o uso do automóvel ao mínimo necessário, sendo que é necessária uma estratégia que tenha uma política tarifária de estacionamento pago, na qual exista uma alternativa de deslocação mais sustentável e que equilibre a balança.
Para tudo isto, é necessária muita promoção. E a Semana Europeia da Mobilidade é um excelente pretexto para lançar algumas pedras basilares que levam a um incremento dos meios alternativos de transporte. Há ruas fechadas ao trânsito, jogos que envolvem as crianças, aulas de aprendizagem do uso da bicicleta, linhas especiais de transporte, passeios de bicicleta, lançamentos de programas, incentivos a quem utiliza a bicicleta, inaugurações, apresentação de projetos, um sem fim de iniciativas. E se todas elas são importantes, pois promovem através do comportamento e da sensibilização, mais importante são as medidas definitivas que efetivamente alterem os hábitos de deslocação da população ao longo do ano. E o desafio da Semana Europeia da Mobilidade está aqui, a fasquia eleva-se aqui: quão ambiciosos conseguem ser os municípios? Que medidas é que ficam para o resto do ano e que se iniciaram numa qualquer Semana Europeia da Mobilidade? Quantos quilómetros de passeios foram arranjados, quantas passadeiras foram sobreelevadas, quantas ciclovias foram construídas, quantos estacionamentos para bicicletas foram criados, quantas zonas de coexistência, estreitamentos, gincanas ou deflexões foram introduzidas na cidade? O que fica como marca destes Executivos?
São as respostas a estas perguntas que fazem com que a Semana Europeia da Mobilidade valha a pena. São estas mudanças ambiciosas, estruturais, sustentáveis que as pessoas querem, que os jovens anseiam. São estas mudanças que quem viaja ou quem se viu forçado a emigrar deseja ver implementadas nas cidades portuguesas.
No final, haverá espaço para todos, as ruas serão mais democráticas e a mobilidade muito mais equilibrada. Para além dos ganhos a nível ambiental e de saúde, há ganhos enormes no uso do espaço público, sendo que os cidadãos ficarão com muito mais espaço livre para sua fruição. E sim, é possível também em Portugal andarmos mais a pé, mais de bicicleta e mais de transporte público, muitas vezes o que custa é começar. Muitas vezes, temos de persistir mais um bocadinho, acreditar e procurar soluções complementares. Muitas vezes, é um saco diferente, é um caminho diferente, é uma roda maior na bicicleta ou apanhar uma linha diferente numa paragem mais à frente que faz toda a diferença. No fim, vale muito mais a pena a viagem, sem o stress do caixote de metal.
#CIDADÃO é uma rubrica de opinião semanal que convida ao debate sobre territórios e comunidades inteligentes, dando a palavra a jovens de vários pontos do país que todos os dias participam activamente para melhorar a vida nas suas cidades. As opiniões expressas são da responsabilidade dos autores e não reflectem necessariamente as ideias da revista Smart Cities.