#CIDADÃO é uma rubrica de opinião semanal que convida ao debate sobre territórios e comunidades inteligentes, dando a palavra a jovens de vários pontos do país que todos os dias participam activamente para melhorar a vida nas suas cidades. As opiniões expressas são da responsabilidade dos autores e não reflectem necessariamente as ideias da revista Smart Cities.
Ainda sou do tempo da mítica campanha “vidro é no vidrão”, na década de 80 do século passado. Anos depois, surgiu o Gervásio nos ecrãs e ninguém lhe ficou indiferente. Estas são duas das minhas memórias mais marcantes sobre este tema, contudo, hoje, os tempos são outros. Antigamente, bastava saber separar os resíduos que produzíamos no nosso dia-a-dia e, mesmo assim, não era para todos. Vivíamos, então, na época das lixeiras a céu aberto, com queima incluída. Na recta de Pombal, à beira do IC8, esse era o pão nosso de cada dia até à década de 90.
“Todos temos uma contribuição para dar neste domínio, já que o espaço urbano ainda não é o que tem de ser, um espaço pensado também na perspectiva dos resíduos que descartamos e da sua reciclagem, ou seja, eco-inclusivo”.
Os tempos mudaram e actualmente temos de pensar de uma outra forma. Já não basta saber separar os resíduos que produzimos! Antes, eram 3 R´s, hoje já são 9 R´s. Podemos, por exemplo, pensar em não comprar os populares polares, democratizados com o surgimento das grandes lojas de desporto, e voltarmos às belas e sustentáveis camisolas de lã que as nossas mães ou avós faziam. Os microplásticos são um problema gravíssimo, mesmo que boa parte de nós não se tenha, de facto, apercebido. A percepção sobre a complexidade e abrangência da temática é ainda incipiente, daí os microplásticos serem apenas uma das amargas novidades oceânicas. Faltou analisar o ciclo de vida dos materiais…
E o problema existe de montante a jusante, não existindo sequer um circuito que possibilite uma economia circular no domínio da reciclagem. Isto já a jusante da questão da urgente redução da plastificação planetária a que assistimos nas últimas décadas. Trata-se de um grave problema que afecta os espaços rurais e espaços urbanos, estes últimos onde se encontra a maioria da população. Não temos sido realmente inteligentes neste domínio.
Já não chega termos à nossa porta ecopontos q.b. e recipientes para compostagem de resíduos orgânicos, bem integrados, tal como vi no País Basco. Urge pensar, por exemplo, a integração desta lógica nos novos edifícios e na própria projecção dos espaços urbanos. Trata-se de uma necessidade premente em Portugal.
E coisas simples, como criar tara para as garrafas de plástico e metal, tal como vi na Noruega em 2006? Ou retirar lições no Brasil, onde, numa mercearia de um bairro pobre, fui surpreendido com a oferta regular de um bombom por levar um saco de pano para as compras. E o cooperativismo na reciclagem, já pensaram? Por cá, até temos bons exemplos, é certo, mas são pontuais.
Urge repensar o paradigma, obrigatoriamente e de uma forma abrangente. Todos temos uma contribuição para dar neste domínio, já que o espaço urbano ainda não é o que tem de ser, um espaço pensado também na perspectiva dos resíduos que descartamos e da sua reciclagem, ou seja, eco-inclusivo. E não é preciso inventar a roda, pois ela já existe. Basta olhar em redor e ver o que de genial já se faz em vários países. Ecobrainstorming, precisa-se!