As cidades são uma das expressões mais representativas da cultura humana e podem ser consideradas como um produto da mesma. Quando falamos acerca delas, vêm-nos à mente espaços marcadamente artificiais representados por cidades de pedra calcária de alguma antiga cidade grega ou pelo asfalto, e imponentes edifícios que se erguem perante os nossos olhos nas cidades atuais. Isto deve-se aos múltiplos benefícios com que estas nos têm brindado, desde que as escolhemos como habitat e abraçámos o sedentarismo como modo de vida, o qual se traduziu, ao longo do tempo, na melhoria da sobrevivência da nossa espécie.
O mesmo acontece quando pensamos nos ecossistemas. A nossa mente relaciona-os imediatamente com uma savana africana ou com alguma selva tropical da América do Sul, uma vez que representam, para nós, extensas áreas naturais plenas de biodiversidade, mas que, ao mesmo tempo, são distantes e inacessíveis, pelo que apenas nos limitamos a visitá-las de forma indireta, lendo um livro ou vendo um documentário na televisão.
Dito isto, pode ser-nos difícil imaginar um ecossistema representado por uma cidade, não porque um ecossistema é uma unidade biológica difícil de definir quanto à sua localização e dimensão espacial, mas antes porque geralmente não temos consciência de que as cidades possuem muitas das características e dinâmicas de um ecossistema. Por exemplo, ambos possuem variáveis bióticas que são representadas nas nossas cidades por todas as espécies vivas que, além de nos incluírem como espécie, incluem desde os nossos animais de estimação ou as espécies de árvores que abundam nas nossas áreas verdes até todos os micro-organismos gerados e alimentados pelos nossos desperdícios; para além disso, partilhamos variáveis abióticas, tal como a energia solar, água, temperatura, pressão atmosférica, substrato, etc. Porém, uma das principais diferenças é que as cidades foram constituídas e moldadas a bel-prazer da espécie humana.
“Devemos preservar a importância das cidades como parte da nossa cultura, mas sem esquecer de que estas são e se comportam como ecossistemas e de que todo o conjunto é afetado pelo comportamento das nossas sociedades quando modificam as suas variáveis.”.
Os processos ecológicos que se realizam nas cidades são diversos e complexos, já que convivemos com espécies de animais e plantas tanto nativas como exóticas que, além de servirem como indicadores ambientais, coexistem nas redes tróficas e nos proporcionam inúmeros serviços ecossistémicos. Lamentavelmente, todas as espécies que partilham o nosso espaço acabam por padecer das diversas patologias que causamos às cidades, tal como ruído, contaminação, lixo, etc.
Devemos preservar a importância das cidades como parte da nossa cultura, mas sem esquecer de que estas são e se comportam como ecossistemas e de que todo o conjunto é afetado pelo comportamento das nossas sociedades quando modificam as suas variáveis. Isto não acontece pelo facto de mais de metade da população mundial humana viver em cidades ou pelas iminentes alterações climáticas que ameaçam a comodidade que estas nos proporcionam, mas porque a compreensão e avaliação do nível de sustentabilidade destes ecossistemas será determinante para reduzir o nosso impacto ambiental e orientar melhor a história da nossa espécie e de todas as do planeta. Por este motivo, é aconselhável voltar a vê-las de um ponto de vista mais interdisciplinar, que aborde cada vez mais aspetos biológicos e ecológicos para o seu estudo.
#CIDADÃO é uma rubrica de opinião semanal que convida ao debate sobre territórios e comunidades inteligentes, dando a palavra a jovens de vários pontos do país que todos os dias participam activamente para melhorar a vida nas suas cidades. As opiniões expressas são da responsabilidade dos autores e não reflectem necessariamente as ideias da revista Smart Cities.