A intervenção num sistema tão complexo, diverso e interdependente como a cidade obriga a uma visão coesa e transversal sobre vários temas que extravasam o mero desenho no papel. Um desses temas é sem dúvida a forma de interação entre a comunidade e o espaço físico da cidade.

Na última rubrica, Comunidade ou Cidade – qual o caminho a seguir?, refletimos sobre os termos Cidade e Comunidade e a sua relação inerente de interdependência, chegando à conclusão de que através da criação de COMUNIDADE estaríamos inevitavelmente a criar CIDADE.

 

 

“É importante estarmos conscientes de que a crescente falta de vivência do espaço público tem levado ao enfraquecimento do sentimento de comunidade e pertença”.

Sendo a comunidade constituída por seres humanos, que têm a necessidade básica de criar laços e estabelecer relações, o espaço público surge como uma oportunidade e palco ideal para induzir este contacto. Começando pela sua natureza – público, portanto, comum – e não esquecendo as características físicas – amplitude, continuidade – que o tornam capaz de albergar todos os estímulos possíveis e necessários para a vida em comunidade.

O arquiteto Jan Gehl, na sua obra Life Between Buildings, apresenta-o como a form of contact – em português, uma forma de contacto – capaz de incitar à construção e ao fortalecimento do sentido de comunidade, porque…

… é uma forma simples de socializar e de estabelecer novos contactos – a utilização frequente do espaço público como espaço de convívio e encontro leva-nos a manter a nossa rede de contactos de uma forma mais simples e natural (que não através de redes sociais);

… é uma fonte de inspiração – quando utilizamos o espaço público, estamos em contacto com os outros, com o meio e com a natureza;

… proporciona uma experiência única e estimulante – cidades com vida, onde as pessoas interagem umas com as outras, são cheias de estímulos e experiências que nos atraem e retêm. Não existe monotonia quando andamos no meio de pessoas.

Mas o que é que torna estes espaços públicos atrativos? Qual o estímulo necessário para levar à vivência que o transformará numa forma de contacto? Se pensarmos nas ruas comerciais com artistas de rua, muito mais atrativas do que outras com o mesmo fim, percebemos que são as atividades humanas o principal impulso à vivência do espaço público.

É importante estarmos conscientes de que a crescente falta de vivência do espaço público tem levado ao enfraquecimento do sentimento de comunidade e pertença.

É urgente um retorno à cidade, à praça, à rua. A cidade sem capital humano não passa de um conjunto de espaços e edifícios sem qualquer atrativo, isto é, um MEIO, mas não um FIM. Nós somos os agentes detentores da ENERGIA CAPAZ DE TRANSFORMAR e mudar a CIDADE. O que nos falta é trazê-la para a rua!

Foto: © Sorbis / Shutterstock.com

#CIDADÃO é uma rubrica de opinião semanal que convida ao debate sobre territórios e comunidades inteligentes, dando a palavra a jovens de vários pontos do país que todos os dias participam activamente para melhorar a vida nas suas cidades. As opiniões expressas são da responsabilidade dos autores e não reflectem necessariamente as ideias da revista Smart Cities.