Um preâmbulo: irei usar o termo “velho” e não maquilhar a ideia com um termo politicamente correcto, como idoso, sénior e afins. A idade não é uma variável por si só, torna-se relevante quando conjugada com outros factores.

Actualmente existem diversos movimentos, institucionais, sociais e organizacionais, para tentar minimizar o abismo geracional entre os mais velhos e os mais novos e fomentar o cruzamento de experiências e perspectivas.

Valorizar o capital e o potencial humano daqueles que não são contributivamente tão activos é essencial numa sociedade que pretenda valorizar não apenas os recursos económicos, mas também, e sobretudo, os seus recursos humanos.

Existem diversas intervenções quase exclusivamente focadas quer nos mais velhos, quer nos mais novos, e que respeitam e endereçam as particularidades de cada uma destas franjas etárias. Existe algum sentido nisto, uma vez que há necessidades específicas que não são contornáveis ou comparáveis.

“Promover a integração e a interacção de projectos destinados quer aos mais jovens quer aos mais velhos tem um efeito mais poderoso do que intervenções exclusivas”.

Não obstante, mais do que infra-estruturas e planos de actividades concebidos e desenhados especialmente para jovens ou idosos, importa ter em conta o efeito social da interacção e integração destas duas faixas etárias.

Promover a integração e a interacção de projectos destinados quer aos mais jovens quer aos mais velhos tem um efeito mais poderoso do que intervenções exclusivas. Disto resulta não apenas uma percepção de utilidade e propósito por parte dos intervenientes, mas também um enriquecimento pessoal e social que beneficia a malha familiar, escolar e social em geral.

A estes benefícios acrescem ainda os impactos positivos na saúde emocional dos próprios. Trata-se de interacções que, ao promover a auto-estima, o envolvimento social e a partilha e consciência emocional, fomentam a saúde psicológica, tantas vezes descurada.

Numa TED Talk, particularmente inspirada, o psicólogo Guy Winch recorda-nos de que a solidão e o isolamento social e emocional (quer sejam percebidos, quer sejam reais) é um factor de risco para a saúde e longevidade. Na verdade, este efeito tem o mesmo peso e é tão impactante como a condição de fumador. E, acrescenta Winch, enquanto os maços de tabaco tem avisos gráficos alertando para esse risco, ninguém nos avisa para a solidão. E, apesar de tudo, acaba por ser muito fácil ficar sozinho quando se pertence a uma franja menos socialmente activa e mais vulnerável da população. Daí a importância de apostar na consciência e promoção da saúde psicológica, particularmente e sobretudo nestas faixas etárias.

Este é o caso de um projecto conjunto entre a Protecção Civil e a Cruz Vermelha Portuguesa, que, no âmbito da interacção, prevenção e protecção locais no município da Amadora, ganhou recentemente o prémio Sasakawa para redução do risco de desastres. Sendo atribuído pela Estratégia Internacional para a Redução de Desastres das Nações Unidas (UNISDR) e pela Nippon Foundation (Japão), é um reconhecimento que nos deve orgulhar a todos, como cidadãos em geral. E que demonstra, na acção e não apenas na conjectura, que é possível ir além da ideia sonhada e fazê-la acontecer.

#CIDADÃO é uma rubrica de opinião semanal que convida ao debate sobre territórios e comunidades inteligentes, dando a palavra a jovens de vários pontos do país que todos os dias participam activamente para melhorar a vida nas suas cidades. As opiniões expressas são da responsabilidade dos autores e não reflectem necessariamente as ideias da revista Smart Cities.