Philip Cabau, arquitecto com ligação às áreas das Artes Plásticas, fala de um novo paradigma na iluminação, onde o cidadão terá “outro papel” e a “própria luz”. No final do dia, o “fundamental” é perceber a quem pertence a luz e o que deve ser feito com ela – temáticas que foram exploradas no evento Óbidos Luz, em 2013, sob coordenação deste arquitecto.
Como as cidades usam a luz?
As cidades passaram a ser espaços que vivem 24 horas por dia, mas a arquitectura do desenho da cidade continua a ser concebida para a luz do dia e as grelhas de iluminação ainda pertencem, de algum modo, ao passado, por questões de gestão tecnológica. Em simultâneo, há um uso absolutamente excessivo de iluminação nas cidades. É preciso desenvolver laboratórios [para pensar a luz], que já estão a surgir em pequenas localidades e cidades. As redes de iluminação gerais, que temos por todo o mundo, serão postas em causa muito brevemente.
Que papel terá o cidadão nesse novo paradigma?
Terá outro. A luz está por todo o lado, está associada a qualquer pessoa que tem a sua própria luz – tem smartphones, tablets e luzes LED portáteis. É curioso ver o quanto os utilizadores da noite, como ciclistas e joggers, já usam luzes pessoais. A luz passou a ser portátil, com fonte de iluminação no próprio utilizador. Mas isto ainda é muito novo. Devemos estar atentos e tentar trazer para o espaço público a problemática da luz e a sua propriedade. É fundamental percebermos a quem pertence a luz e o que é que deve ser feito com ela. Quando o preço da electricidade começar a disparar, o assunto vai tornar-se mais complexo, por enquanto os LED têm resolvido.
O evento Óbidos Luz, do qual foi um dos coordenadores em 2013, funcionou como um caso de estudo sobre as possibilidades inerentes à associação entre luz e ambiente urbano, arte e planeamento cultural. De que forma fomentaram o lado pedagógico?
Proporcionámos várias formas de pensar na prática da luz, numa perspectiva interessante e criativa, olhando-a de uma forma mais simples e mais económica. Tivemos uma panóplia de abordagens sobre a luz, da autoria de diferentes artistas, duas aulas abertas e um workshop. A chave de tudo isto é as pessoas considerarem que a luz é um assunto delas e que merece ser pensado para que possam agir criticamente sobre o espaço público. É preciso criar dispositivos pedagógicos para que os que estão em idade adulta mas, sobretudo, para que os mais novos possam pensar estes assuntos.
Que formas de pensar a luz destacaria?
A minha preocupação foi perceber como é que cada abordagem pensa a luz e as sombras. Acho impossível falar da experiência da luz sem referir a experiência da sombra, porque são a mesma coisa. No mundo global, curiosamente, há culturas com um uso da (pouca) luz, sobretudo da sombra, muito sofisticado, como é o caso da cultura árabe, com a qual devíamos aprender.