O governo da China quer que os Jogos Olímpicos de Inverno de 2022, que decorrerão em Pequim, sejam um dos eventos mais sustentáveis da história do olimpismo e está a preparar uma “cidade piloto” de baixo carbono para os receber.
Apesar de ser a principal anfitriã, Pequim não será a única cidade chinesa a receber as competições dos Jogos 2022, que terão também lugar nas proximidades da capital, em Yanqing e Zhangjiakou. É nesta última que o país mais populoso do mundo pretende criar uma “cidade piloto” que demonstre a transição para uma economia de baixo carbono. Para isso, o governo da província de Hebei, onde se situa a cidade de Zhangjiakou, assinou um acordo com a IRENA, a Agência Internacional para as Energias Renováveis, para ajudar Zhangjiakou a estabelecer uma “zona olímpica de baixo carbono”. O objectivo passa por garantir que tanto o centro olímpico, como os locais onde decorram as provas, sejam abastecidos com energia provenientes de fontes renováveis.
Tudo indica que não será difícil de cumprir, uma vez que a cidade, que se localiza numa região com um enorme potencial em termos de energias renováveis, como energia eólica, solar e biomassa, tem já definida a meta de, em 2020, alcançar 50 % da energia eléctrica usada proveniente de fontes renováveis.

Adnan Z. Amin, director-geral da IRENA, e Xu Qin, governador da província de Hebei, em Pequim, China.
“A busca por uns Jogos Olímpicos de Inverno de 2022 de baixo carbono não vai apenas apoiar a ambição da China de reduzir os gases poluentes, mas também verá o país como pioneiro na descarbonização económica dos maiores espectáculos do mundo. Este acordo reflecte a profunda cooperação da agência com a China e irá facilitar uma positiva troca de conhecimento e experiência”, afirmou Adnan Z. Amin, director-geral da IRENA, uma agência, formada em 2009, com o objectivo de apoiar os países numa transição para um modelo energético mais sustentável, e que actualmente conta com 153 membros (entre os quais Portugal).
Reutilizar infra-estruturas e apostar nas renováveis
Entre as críticas recorrentes à organização de megaeventos como os Jogos Olímpicos é a enorme quantidade de detritos provenientes da construção das diversas infra-estruturas e qual será o futuro dessas mesmas infra-estruturas após o final da competição.
Para evitar esse impacto ambiental, Pequim pretende fazer uso dos equipamentos existentes e que foram utilizados quando dos Jogos Olímpicos de Verão de 2008. Dessa forma, a organização dos Jogos de 2022 irá aproveitar 11 das 13 infra-estruturas utilizadas há 10 anos. Um dos principais locais será o icónico “Ninho de Pássaro”, estádio que irá acolher as cerimónias de abertura e encerramento da competição em 2022.
Chu Bo, membro do comité olímpico chinês, sublinha que o país “quer organizar os jogos de uma forma económica, usando as infra-estruturas já existentes, e deixando, de forma exemplar, um legado depois de 2022, semelhante ao que aconteceu em 2008”.
A par disto, é preciso lembrar que a China é um dos países com maior índice de poluição do mundo. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, a poluição do ar no país está bastante acima do que é considerado seguro. No entanto, nos últimos anos, o governo daquele país asiático tem vindo a tomar medidas com vista a combater a poluição atmosférica.
Segundo um estudo da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, a “guerra” contra os elementos poluentes tem vindo a dar frutos. Em algumas cidades, o nível de concentração de partículas perigosas diminuiu, nos últimos quatro anos, cerca de 32%, o que, para os investigadores Michael Greenstone e Milton Friedman, citados pelo New York Times, poderá levar a uma “melhoria significativa na saúde dos cidadãos chineses, aumentando a esperança média de vida em meses ou anos”.
Uma das medidas do governo chinês para fazer frente a este problema tem sido a aposta nas energias renováveis. Entre 2012 e 2016, na China, a capacidade instalada de energia solar fotovoltaica aumentou dez vezes. Só em 2017, o mercado chinês cresceu 53%, para os 52,8GW (Gigawatt) e até 2020, pretende investir mais de 361 mil milhões de dólares em produção de energias renováveis. Ainda assim, de acordo com um relatório da IRENA, no último ano, houve, mundialmente, um aumento no consumo de combustíveis fósseis: o uso de gás aumentou de 3%, principalmente na China, que registou cerca de um terço da subida.