É conhecido que as alterações climáticas têm como consequência expectável um aumento da frequência e da intensidade dos designados fenómenos climáticos extremos em Portugal. O inverno deste ano provou, mais uma vez, as vulnerabilidades que o território português apresenta perante fenónemos como as cheias e inundações.

A este nível, os espaços urbanos apresentam particular vulnerabilidade a fenómenos de cheias e inundações, quer por questões de planeamento, ou da sua ausência (elevada impermeabilização do solo, artificialização dos cursos de água, construção em leitos de cheia), quer pela potencial dimensão do impacto humano e da disrupção dos sistemas económicos e sociais.

Do ponto de vista da ZERO, as cidades necessitam urgentemente de medidas de retenção natural da água, isto é, soluções baseadas na natureza, cuja principal função é aumentar e/ou restaurar a capacidade dos aquíferos, solos ou ecossistemas aquáticos de reterem água, e que simultaneamente permitem minimizar cheias e inundações e favorecem a manutenção dos benefícios dos ecossistemas.

Numa área urbana em que 75 a 100% do solo está impermeabilizado, o solo só retém 15% da precipitação, sendo que, se retirarmos os 30% desta que voltam à atmosfera por evapotranspiração, 55% da água escorre livremente nos espaços urbanos. Quando existem picos de precipitação, a escorrência tende a ser maximizada, pelo que a primeira solução passa por implementar medidas que diminuam a impermeabilização, para aumentar a infiltração no solo, tais como a criação de áreas verdes, onde se incluem a renaturalização de linhas de água encanadas, charcos temporários, pavimentos permeáveis, jardins, e telhados verdes. Nas áreas onde as inundações sejam mais frequentes, não só deverá ser ponderada a criação de zonas húmidas contíguas ou a montante dos espaços urbanos – espaços que favorecerão a biodiversidade e servirão para reter grandes quantidades de água e retardar o seu movimento após picos de precipitação intensa -, mas também gerir corretamente as áreas agrícolas e florestais localizadas junto às bacias de drenagem.

Se vamos viver cada vez mais em meio urbano, é urgente aumentar a sua resiliência a fenónemos extremos, sendo fundamental que os exercícios de planeamento sejam efetivamente transpostos para as várias realidades locais.

A publicação deste artigo faz parte de uma colaboração entre a revista Smart Cities e a Associação ZERO.