As cidades enfrentam, hoje, dois grandes desafios que as obrigarão cada vez mais a repensar os seus planos de mobilidade: a falta de espaço físico e a degradação da qualidade do ar. Contornar estes problemas passará seguramente por colocar um menor número de veículos (tendencialmente menos poluentes) ao serviço de um maior número de pessoas.

A forma como os residentes, trabalhadores e visitantes se deslocam dentro do perímetro da cidade ou no acesso à mesma terá de privilegiar uma mobilidade partilhada, que deverá ser tão flexível e personalizável quanto possível. É aqui que entram serviços inicialmente conotados com uma utilização lúdica e turística, mas que, agora, se assumem cada vez mais como uma solução para as deslocações pendulares do dia-a-dia.

Conceitos como o carsharing, o bikesharing e até o scootersharing, enquanto serviços que possibilitam alugar, respetivamente, automóveis, velocípedes e motociclos sem condutor, de forma descentralizada e muito mais flexível em termos de duração face ao aluguer tradicional, estão a entrar no nosso vocabulário.

Quase todos os serviços de mobilidade partilhada, sejam eles iniciativa de municípios sejam de privados, funcionam com base em aplicações móveis, que permitem uma maior comodidade, autonomia e personalização no acesso e utilização dos mesmos.

A própria flexibilização de tarifas e modelos de utilização aumenta a probabilidade de conseguirmos encaixar estes serviços partilhados nas rotinas e horários que forem mais convenientes. Se algumas plataformas prevêem subscrições mensais, combinadas ou não com outros serviços (transportes públicos, estacionamento, carregamento elétrico, etc.), também há as que permitem “alugar” o veículo à hora ou ao minuto, deixando-o em parques específicos espalhados pela cidade ou, noutros casos, em qualquer lugar.

“O aumento da oferta deste tipo de serviços deixa na calha o próximo passo que passará pela crescente integração com os passes mensais de transporte já existentes”.

Segundo a Comissão Europeia, um veículo em regime de utilização partilhada pode evitar que entrem na cidade 15 a 20 automóveis particulares. À economia de tempo (passado nas filas de trânsito) e de dinheiro (gasto em combustível, portagens, estacionamento, entre outros), junta-se um saldo ambiental menos negativo. Menos carros a circular significam menos toneladas de dióxido de carbono emitidas, menos partículas finas altamente nocivas para a saúde, menos ruído e menos congestionamento. Por sua vez, atendendo a que grande parte dos mais recentes serviços de carsharing, bikesharing e scootersharing investem em frotas 100% elétricas, a pegada de carbono tende a ser ainda menor.

De referir também que o IVA dos serviços de mobilidade partilhada é agora dedutível no IRS, um incentivo que, acompanhado do alargamento da rede de carregamento para veículos elétricos dentro das cidades, enriquece o leque de motivos para aderir à mobilidade partilhada.

 

A publicação deste artigo integra-se numa parceria entre a revista Smart Cities e a Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza, com vista à promoção de comportamentos mais sustentáveis.