Álvaro dos Santos Amaro, presidente da câmara municipal da Guarda, explica no que consiste a visão “smart city” da cidade mais alta de Portugal e como esta pretende contribuir para a valorização dos territórios do interior.

 

Como o município da Guarda encara o conceito de “cidade inteligente”?

Em todo o mundo, as cidades estão a adoptar a designação de “Smart City”. Em muitos casos, mais por modas e influências do que por necessidades evidentes e objectivas. Casos de sucesso realmente eficazes e que solucionam problemas do quotidiano ainda escasseiam. Muitas das experiências desenvolvidas são apenas isso, experiências efémeras ou “pilotos” inconsequentes nos resultados e progressos anunciados e almejados. As cidades do interior começam a competir com as suas vizinhas, tal como as grandes competem entre si, desgastando recursos orientados para acções não produtivas e inconsequentes para solidificar uma estratégia de futuro. O município da Guarda entende que ser cidade inteligente não deve ser um sound bite. Deve ser uma prioridade objectiva na resolução dos problemas locais, de forma sustentável e com uma visão estratégica para o futuro. A Guarda integra já um movimento para defender o desenvolvimento do interior e na sua estratégia de cidade inteligente vai tentar ser um exemplo nacional e internacional.

Quais serão as prioridades e linhas de actuação neste sentido?

O rigor financeiro é fundamental para a integração de novos projectos, mas também para a execução dos já programados. Este rigor projecta uma imagem de seriedade e credibilidade e com estes atributos vem a confiança, dos residentes, dos visitantes e dos potenciais investidores. A vertente económica está sempre na primeira linha do desenvolvimento, sem consolidação financeira não há progresso. Mas há também, não menos importante, a vertente da dinamização social e cultural, que dá vida e anima uma cidade, que ajuda na afirmação e influencia nas escolhas na fixação da população, do talento e do investimento.

“A Guarda integra já um movimento para defender o desenvolvimento do interior e na sua estratégia de cidade inteligente vai tentar ser um exemplo nacional e internacional”.

Guarda recebeu, em Dezembro passado, o evento dedicado ao tema “smart city”. Qual foi a motivação?

Queremos ser “Guarda Avançada” das cidades periféricas, satélites ou remotas, ou seja qual for a etiqueta que escolhamos para restringir, quase de forma automática, o pleno direito histórico de evoluir, atrair e crescer de forma sustentada e garantindo a melhor utilização de recursos públicos e naturais para o bem-estar das populações. Queremos mostrar que existem mais caminhos. Caminhos alternativos, baseados não somente na tecnologia, que será naturalmente abraçada por todas as cidades, mas na criatividade e no arrojo de envolver os parceiros púbicos e privados num projecto de sobrevivência territorial. Uma missão que demanda liderança e coragem.

De que forma ser anfitriã deste tipo de eventos reflecte o posicionamento do Executivo e do município?

A Guarda está pronta para liderar essa nova rede global de cidades abertas, criativas, remotas, especiais, periféricas, abandonadas, em dificuldades, desprezadas, esquecidas mas… inteligentes. Cidades sem medo de testar coisas novas e fazer o que mais nenhuma teve coragem para fazer, correndo riscos, é certo, mas garantindo aos seus cidadãos que a resignação não é opção, nem a estagnação uma estratégia. Uma missão que exige determinação, carácter e convicção. Mas, tal como referido, liderança e coragem.

Que novidades a CM Guarda está a preparar num futuro imediato para melhorar a qualidade de vida dos seus cidadãos?

Estamos a preparar a apresentação do ‘Blueprint/Roadmap’ para a Guarda Smart City. Podemos referir que será um processo aberto e contínuo, serão envolvidos todo o tipo de parceiros, mas a prioridade é precisamente essa. A Guarda não vai fazer nada que não tenha por missão estratégica melhorar as condições do concelho e dos seus cidadãos, de forma a garantir que os resultados serão mesmo visíveis e que não estamos a entrar nesta roda da “Smart City” só para dizer que também estamos lá. Todas as cidades vão ter essa designação, mas a Guarda deseja mais do que um título, quer resultados concretos e palpáveis e isso só vamos conseguir com uma estratégia bem definida e participada por todos os intervenientes.