Chama-se COvid-19 REsilient Mobility as a Service (CORE MaaS) e é uma das candidaturas a um apelo urgente lançado pela Comissão Europeia (CE) a start-ups e empresas tecnológicas para o desenvolvimento de soluções inovadoras que ajudem dar resposta aos desafios da actual pandemia de Covid-19. Na área da mobilidade, o CORE MaaS propõe a criação de uma plataforma que calcula as opções de mobilidade disponíveis para determinada deslocação tendo em conta as regras de distanciamento social.

Desenvolvido pela equipa da Iomob, cujo co-fundador é Boyd Cohen, criador da famosa “Smart Cities Wheel” (Roda das Smart Cities, em português), em parceria com a consultora Factual,  “o projecto CORE MaaS vai disponibilizar algoritmos de rota intermodais para permitir aos utilizadores seleccionar as opções de mobilidade disponíveis numa determinada área geográfica que optimizem o distanciamento social, enquanto parâmetro prioritário”, explica Scott Shepard, chief business officer da Iomob. Para além de encontrar as melhores opções segundo este critério, “os serviços vão suportar, sempre que possível, modos de pré-pagamento, através de apps, para que o utilizador e o condutor não violem os requisitos de distanciamento social”.

O projecto é um dos candidatos a um concurso urgente lançado às empresas de inovação e tecnologia por Bruxelas, no âmbito do EIC (European Innovation Council) Accelerator e cujo período de candidaturas fechou a 20 de Março, contando com um orçamento de 164 milhões de euros. O CORE MaaS é uma das propostas que aguardam resposta da CE, que deverá ser conhecida em Maio. “Estamos confiantes de que seremos seleccionados”, diz Scott Shepard, avançando que, ainda assim, estão já a fazer esforços para implementar a solução com parceiros e outros clientes na Europa e América do Norte.

A pandemia de Covid-19 que o mundo enfrenta hoje veio alterar profundamente o funcionamento das cidades, com os efeitos das medidas de confinamento das populações a serem particularmente visíveis na mobilidade urbana. “Os desafios trazidos por esta pandemia sentem-se na redução das movimentações básicas de pessoas, bens e serviços durante esta altura de crise. Mas, enquanto muitas empresas estão a ser obrigadas a fechar e determinados serviços estão a ser reduzidos, as cidades continuam a precisar de providenciar um determinado nível de mobilidade aos seus cidadãos”, comenta Scott Shepard. Neste enquadramento, o CORE MaaS propõe adaptar o princípio Mobilidade como Serviço (MaaS – Mobility as a Service) às necessidades do momento actual. “A Mobilidade como Serviço propõe uma oportunidade ideal para ajudar a lidar com a pandemia de Covid-19. As tecnologias digitais e os sistemas inteligentes de informação na mobilidade, tal como a MaaS, informam e direccionam os cidadãos para melhor navegarem pelo ambiente urbano com confiança, dados os desafios e restrições que estão em vigor”.

Para aplicar a iniciativa no terreno, “vai ser preciso desenvolver uma plataforma aberta de middleware, baseada em SDK, que integre os operadores de serviços de mobilidade disponíveis, os transportes públicos e respectiva informação em tempo real sobre a ocupação da sua capacidade, os táxis e todos os serviços de mobilidade entre várias cidades e regiões no continente europeu, incluindo Portugal”, refere o especialista, garantindo que 22 organizações globais e regionais já se comprometeram a apoiar a disseminação do CORE MaaS. Procurar parceiros locais nos sectores privado e público para ajudar a pôr a solução em funcionamento nas duas principais cidades portuguesas, Lisboa e Porto, está já na lista de intenções da Iomob, que tem, no seu portefólio, uma plataforma MaaS premiada desenvolvida para a empresa de comboios espanhola, Renfe, e que vai, brevemente, implementar a sua solução com a sueca SkaneTrafiken.

Se, nesta fase, o requisito para uma deslocação segura é respeitar o distanciamento social, importa perguntar de que forma isto poderá ter impacto no futuro dos transportes públicos colectivos, que, por definição, são pontos de aglomeração de pessoas. Sobre o assunto, Scott Shepard mostra-se convicto de que, à medida que se retome “um nível de normalidade”, a relevância e a necessidade dos transportes públicos continuarão a ser incontornáveis, sendo, todavia, expectável que “os passageiros precisem de tempo para ganhar confiança para entrar em locais públicos e partilhar espaços com outros”. Até lá, as recomendações das entidades de saúde são para cumprir e, para o responsável, “o distanciamento social é certamente um requisito para ‘achatar a curva’ e reduzir o impacto nas nossas infra-estruturas de saúde, de modo a que não sejam usadas acima das capacidades neste tempo de crise”.